Pertenço à
enorme multidão de mulheres portuguesas que tem Maria como primeiro nome.
Os pais e
padrinhos da minha geração foram, talvez, dos que mais abusaram dessa escolha,
mas dantes todas éramos Maria e mais qualquer coisa – Isabel, Antónia, Luísa,
Lourdes, Carmo, João, José, Lúcia, Etelvina, Amélia, Conceição, Fátima, Teresa,
Manuela, Deolinda, e por aí.
Era por esse
segundo nome que éramos chamadas, e era ele que nos distinguia − olá Isabel,
olha a Antónia, viste a Luísa? chama a Lourdes, convidei a Carmo, foi a João
que me disse, fui com a Zé, a Lúcia cortou o cabelo, a Etelvina teve um rapaz,
a Amélia foi promovida, há que tempos não vejo a Conceição, tens falado com a
Fátima?, tenho saudades da Teresa, que é feito da Manuela? e da Deolinda?
De há um
tempo para cá, contudo, não sei o que deu às mulheres Marias; subitamente, e sem aviso prévio,
começaram todas a renegara o seu segundo nome assumindo exclusivamente Maria, seguido
do apelido.
Episódio um
pouco caricato, um destes dias fui apresentada, em simultâneo, a duas Maria
Matos. Perguntei se aquilo lhes tinha acontecido logo à nascença ou se o
“acidente” só se dera mais tarde; disseram que foi coisa tardia porque uma
nasceu Maria João Matos, a outra Maria do Rosário Matos, e em diferentes
famílias.
Se eu ligar
para a empresa delas e pedir para falar com a Maria Matos vão-me perguntar
“qual delas?” e eu talvez tenha que responder “a dos dentes tortos”.
Convenhamos que não é uma grande conversa.
Só uma perguntinha
que não pretende ofender:
− Estas
modas são um bocadinho aparvalhadas, não são?
Maria de
Jesus Lourinho
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