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24 de janeiro de 2011

Palavras

“Na perspectiva do homem moderno, as pessoas de antigamente tinham menos liberdade. As possibilidades de escolha eram menores, mas a responsabilidade era, sem dúvida, muito maior. Nem sequer lhes ocorria que pudessem descartar-se dos deveres a seu cargo, da fidelidade ao lugar que a vida parecia ter-lhes outorgado.
Era notável o valor que as pessoas davam às palavras. Nunca eram armas para justificar factos. Hoje todas as interpretações são válidas e as palavras servem mais para nos descartarmos dos nossos actos do que para responder por eles.”

Resistir, Ernesto Sabato, Dom Quixote, 2005

Vem isto a propósito do teor do discurso de vitória de Cavaco Silva na noite de domingo. Durante a campanha não respondeu a nenhuma questão incómoda e no final, qual virgem ofendida, esperneia, ataca tudo e todos e esquece-se, pela primeira vez na história das eleições presidenciais, de cumprimentar os candidatos derrotados.
Fui-me deitar um bocadinho angustiada, não sei porquê.



21 de janeiro de 2011

Vale tudo


Candidato fala aos "servidores" do Estado.
Cavaco alerta para o aumento das taxas de juros com segunda volta.
Cavaco alertou para as consequências de uma segunda volta, que seria "desviar as atenções do essencial". E o "essencial" é que iria causar "uma contracção do crédito e uma subida das taxas de juros com as consequências para as famílias e as empresas".
Público online de 20 de Janeiro


Esta bela tirada do candidato, para além de dar uma excelente ideia do seu entendimento do que é viver em democracia e do seu pensamento político, traz-me à memória um livro do filósofo francês Luc Ferry, intitulado "Famílias, amo-vos" (Círculo de Leitores/Temas e Debates, 2008).
Quase no início, ele escreve:
"Comecemos por uma constatação banal: o medo tornou-se, como já se terão apercebido, uma das paixões dominantes das sociedades democráticas. Para dizer a verdade, temos medo de tudo: da velocidade, do álcool, do sexo, do tabaco, da costeleta de vitela, das deslocalizações, das ONG, do efeito de estufa, dos frangos, dos micro.ondas, do dumping social, da precariedade, de Turquia, do Presidente americano, da extrema-direita, das periferias, da mundialização, para mencionar apenas algumas."

Em Portugal, e pela mão de Cavaco Silva, acrescentámos ontem dois novos medos à nossa vida - o medo de votarmos em quem queremos com medo dos mercados.
Eis uma boa contribuição portuguesa para a esquizofrenia do medo e do calculismo que tomou conta da nossa velha Europa.





20 de janeiro de 2011

Drama nas Presidenciais






Por estes dias, na campanha eleitoral, Fernando Nobre diz que tem estado a ser ameaçado.
Em Coimbra foi peremptório e dixit:
“Dêem-me um tiro na cabeça, porque sem um tiro na cabeça eu vou para Belém”
Será que eu já estou a viver na Sicília (ou em Juárez) e não dei por nada?
Há a velha frase/brincadeira que pergunta – “estás bem, ou vais para Belém?”
Eu acho que no caso dele, nem uma coisa nem outra.

13 de janeiro de 2011

"Uma Campanha Alegre"

As Farpas
As Farpas são crónicas publicadas mensalmente da autoria de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão A parte escrita por Eça foi publicada em 1890, em dois volumes com o título Uma Campanha Alegre.
As Farpas são uma admirável caricatura da sociedade da época. Altamente críticos e irónicos, estes artigos satirizam, com muito humor à mistura, a imprensa e o jornalismo partidário ou banal;
"Eça não se limita, todavia, a galhofar. As suas Farpas constituem um sistemático e quase que completo curso de sociologia do Portugal da Regeneração, observado de alto a baixo, nas câmaras e nas ruas, nos mercados e nas prisões, nos gabinetes da administração e nas praias onde labutam e naufragam pescadores, nas salas domésticas onde se entendiam pescadores e tomam chá com torradas as famílias, nas igrejas onde rezam beatas ou se realizam eleições, nos teatros onde se representam peças pífias e mal traduzidas, nas redacções onde se panteia em péssimo jornalismo, o que sucede tanto em matéria de política como em casos mais triviais do dia-a-dia do país."*
*In Dicionário de Eça de Queirós, pág. 264.
Excerto de um texto retirado daqui.
É muita pena que Eça já não esteja vivo; talvez ele publicasse algumas crónicas que nos fizessem sorrir sobre esta muito triste campanha que estamos a presenciar - sem rasgos, sem brilho, sem propostas exequíveis para um Presidente da República.
Uma criatura muito madura, que já viveu 36 anos de democracia e alguns mais de ditadura, olha para todos os candidatos e pensa.
·         Não gosto de homens que se julgam únicos e insubstituíveis, indispensáveis para salvar o país, como se não carregassem nas costas 15 anos de grande poder que nos conduziu até aqui.
·         Não gosto de homens cuja mensagem essencial ainda não percebi, mas que estão sempre a falar de pátria e patriotismo.
·         Não gosto de homens demagogos e populistas (e monárquicos) que trazem para a campanha a sua excelente actividade cívica (o que não tem mal) para ser usada contra a actividade política (o que já tem mal, porque a democracia precisa de políticos e demonizá-los é muito perigoso).
·         Não gosto de homens zangados com o mundo e que têm sempre o sobrolho franzido. Assustam-me.
Pode dizer-se, com verdade, que há muito por onde escolher mas é como se fossemos a um mercado cheio de peixe pescado nas águas do Golfo do México – não apetece comprar nada.
Por mim, estou à nora com a “refeição” e tenho a certeza que o peixe que comer me vai cair mal. Mas, mesmo assim, vou comer!