Continuou o
tempo cinzento com chuviscos, Passos foi assobiado em Elvas, Aníbal aconselhou-nos
a fazer desporto, Maduro disse mais umas parvoíces convencido que tem graça, e
a Teresa Tarouca foi condecorada, provando-se assim que na casca dos fósseis
também é possível pôr comendas.
Fartinha de
tanto humor negro, também eu tranquei portas e janelas, desliguei a internet e
fui para Serralves.
Encontrei lá
muitos milhares, que era dia de festa, e pareceu-me que estávamos todos em
busca duma normalidade perdida há demasiado tempo; o mesmo se passou depois na
Feira do Livro de Lisboa, alameda acima alameda abaixo, milhares e milhares,
todos com cara de quem pensou: queremos as nossas vidas!
Desejosa que
estava de ver as exposições de Serralves, confesso que saí um bocadinho
desiludida.
− Alberto
Carneiro, ainda que mal lhe pergunte, tantos espelhos é para quê? E não lhe
parece que anda a ver a natureza demasiado barroca?Quanto aos desenhos de Jorge Martins, que os há magníficos, pareceu-me que talvez o artista tivesse tido necessidade de despejar o ateliê para pintar as paredes, e aproveitasse, para isso, a exposição de Serralves, com a conivência da curadora, claro está.
Eram centenas de desenhos. Por serem tantos, poluíam o espaço, não nos deixando margem para fruir. Uma pena.
Na Feira do
Livro de Lisboa fiz o que sempre faço − comprei clássicos a menos de 5 euro, e
gosto disso.
Entre
Serralves e a Alameda do Parque pareceu-me que ainda estamos vivos.E também gosto disso.
Do
morto-vivo que falou de agricultura no 10 de Junho é que não gosto, nem vale a
pena falar.