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2 de novembro de 2025

Uma escritora admirável

 


..."Fomos além de Omsk, pela estrada de Baikal-Amur. Dirigíamo-nos a uma aldeia para falar com um especialista sobre a guerra da Chechénia. Tínhamos um motorista. Eram tempos muito difíceis e ele estava grato pelo trabalho, os filhos desmaiavam de fome na escola. Começámos a conversar, à mesa, com o nosso convidado, que tinha um ponto de vista muito crítico. De repente, ao ouvir-nos, o motorista perguntou se estávamos contra a guerra. Respondemos que sim. Ele disse que se o seu filho fosse mais velho, o mandava para lá. “Porquê?”, perguntei. “Porque a Rússia é grande em tudo.” E foi-se embora. Quando saímos, o carro não estava. Ele recusou-se a transportar-nos e a ganhar o dinheiro.

Como voltaram?

Num trator. Não havia mais carros disponíveis. Tivemos sorte em poder sair dali. É muito difícil entender esta mentalidade. Nesse dia, percebi o que era um russo."


Svetlana Alexievich

Entrevista ao Expresso, 1 Novembro 2025

12 de maio de 2014

Isso é que era!









 
 
 
 
 
 
 
Sonolenta reflexão numa tarde de domingo:

A minha geração, quando as coisas não corriam bem no país, sentia que tinha o DEVER de as tentar mudar. E tinha.

A geração a seguir à minha, quando as coisas não correm bem no país, sente que tem o DIREITO de se ir embora. E tem.

E então? Moral da história?
Bom, isso não sei; se calhar nem tem.

Também nem sei por que me pus a pensar nestas parvoíces em vez de tentar perceber se a barba do tavesti que ganhou o festival da canção é real ou pintada.

Melhor ainda seria começar a alertar as redes sociais, que ainda não perceberam nada, para o facto de a victória do travesti barbudo ser parte integrante do pacote de sanções da Europa à Rússia.

Isso é que era! Mas afinal acabei por passar pelas brasas.

21 de fevereiro de 2014

Olha, afinal também é daltónico



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sempre achei que Octávio Teixeira pertencia ao grupo minoritário de comunistas que não sofre de daltonismo e, se não consegue ver as sete cores do espectro, vê, pelo menos, umas quantas.

Foi-se-me a convicção ao ouvi-lo ontem no Conselho Superior da Antena 1.

Falando sobre a grave situação de Kiev, e também da Venezuela, Octávio Teixeira reduziu tudo aos interesses geoestratégicos das potências, e chegou a dizer que os Estados Unidos querem fazer na Venezuela o que fizeram no Chile − como se Obama fosse Nixon e nada tivesse mudado na vida, e no mundo, ao longo das vertiginosas quatro décadas que vão de 1973 e 2014.

Por sua vez, na Ucrânia, e para Octávio Teixeira, tudo se resume a uma luta entre os interesses (ilegítimos) dos Estados Unidos e da União Europeia, por um lado, e os (mais ou menos legítimos) da Rússia, por outro.

É absolutamente certo que esses interesses existem e são poderosos; é também verdade que os povos podem ser por eles instrumentalizados, mas não me parece que as pessoas, de qualquer parte do mundo, venham para a rua e lá permaneçam (sobretudo com temperaturas negativas) só porque sim.

Percebi ontem que para o comunista Octávio Teixeira há certezas que, para mim, são um pouco surpreendentes. A saber:

- os povos não “riscam” nada – é tudo geoestratégia.
- na sua visão a preto e branco, os maus são, em todas as situações, os EUA e a União Europeia.

E aqui, deixo-me rir.

É que eu ainda sou do tempo em que, sendo a União Soviética e a China irmãs desavindas, o PCP estava do lado da primeira. Quando ela se desfez em pó, passou a estar do lado do anterior inimigo, a China, indiferente ao seu capitalismo selvagem.

Agora, com a questão ucraniana, Octávio Teixeira volta à casa de partida e está do lado desse grande democrata, comunista e paladino dos direitos humanos chamado Putin.

E eu, posto isto, vou ali chorar um bocadinho que esta gente toda só me dá desgostos.

 

22 de março de 2013

Antes Fria


Eu acho que a “coisa” está a ficar, subitamente, muito preta.

É assim como uma enorme trovoada, daquelas que chegam quase sem aviso, enegrecem o céu e produzem enxurradas capazes duma enorme devastação.

O Eurogrupo, (que é como quem diz, Merkel, o seu ministro das finanças e alguns países/boys), resolveu tratar Chipre à estalada, mas com humilhação pública. Não era costume. O costume era fazer como tem sido feito connosco: na ferida vai-se deitando sal e vinagre, um pouco todos os dias. O doente geme, a ferida vai gangrenando, mas não há escândalos públicos, é tudo em família.

Desta vez, em relação a Chipre, devem ter fumado umas ganzas pela noite fora, decidiram resolver o assunto à chapada mas, no meio da trip esqueceram-se de duas coisas importantes.

A primeira é que os cipriotas podiam ter alguma coisa a dizer sobre a sua vida, mas isso já é habitual neles; mais grave é que se esqueceram que do outro lado da cerca está uma vizinha, chamada Rússia, que gosta de soltar os cães

Agora está tudo à nora.

O metro e meio de Medvedev já chama burros aos europeus nas bochechas do Barroso (felizmente este é homem de grande estômago e tudo engole desde que o deixem ficar onde está), o BCE avisa que ou cipriotas fazem como lhes mandam ou fecha a torneira na segunda-feira, os ministros das Finanças reúnem de urgência por teleconferência, e a democracia na Europa está cada vez mais semelhante a uma batata.

Parece que toda a gente está a medir forças com toda a gente. Voltaremos à Guerra Fria? Estou tentada a desejar que sim: é que temo que “isto” aqueça.
Antes fria. Chiça!