Simpatizei,
desde o início, com a ideia do partido Livre; até ajudei a arranjar assinaturas
para a sua formação. Na verdade, se o Movimento 3D tivesse decidido passar à acção
em vez de se recolher sem mais explicações, teria feito exactamente o mesmo.
Esta pulverização
da esquerda não me incomoda nada, visto que apenas põe à vista a sempre
incómoda verdade – a divisão faz parte do ADN da própria esquerda.
O que me
estava a perturbar, e muito, era a ausência de novas formações políticas
depois destes 3 anos dum regime de terror.
Acabaram por
surgir, mas o Movimento 3D revelou-se uma falsa partida, antes de o ser já o
não era, e o Livre, apesar da persistência e empenho demonstrados para a sua
criação, parece-me não possuir ele próprio o
élan de que necessitaria para convencer uma sociedade profundamente
desiludida e fragilizada.
Acresce que
o Livre nasceu com um grave problema genético – ser “o partido do Rui Tavares”
e, por mais que este o negue e actue em conformidade, os seus adversários
políticos não perderão uma oportunidade para lhe chamarem oportunista e
afirmarem que criou o partido apenas para continuar a ser deputado europeu.
Neste
contexto, Rui Tavares só tinha uma atitude a tomar: autoexcluir-se, desde o início, da
candidatura, e optar pela luta política interna.
Não o fez. Estão
agora a decorrer as primárias do partido e, como era expectável, Rui Tavares é
a pessoa mais votada para a lista de candidatura às eleições europeias.
E ouso o
prognóstico: a lista vai formar-se, Tavares vai encabeçá-la, será eleito ou
não, mas o Livre não passará dum cadáver adiado.
No estado de
raiva, descrença e cinismo em que os portugueses se encontram, só actos inesperados,
claramente desprendidos e contra tudo o que é habitual, os poderão acordar, devolver-lhes
alguma esperança na política e nos políticos e mobilizá-los, mais que não seja,
para votar.
Talvez por ingenuidade,
Rui Tavares não percebeu isto.
Certo,
certo, é que não teve o “rasgo”, a visão política, ou a vontade necessária para entender
que, hoje, a credibilidade, para se ganhar, exige grande dose de sacrifícios.
Vaticino,
pois, ainda que com enorme pena que, se o Movimento 3D antes de ser já o não
era, o Livre logo depois de ser já o não será.
Mas, oxalá
me engane.