A exposição
da australiana Narelle Jubelin (Sydney, 1960), patente no Centro de Arte
Moderna da Gulbenkian, podia perfeitamente ser uma exposição apresentada num
qualquer Centro Cultural duma capital de distrito.
Saímos dela
com uma sensação de quase nada, entre bordados, uns vídeos com as reflexões da
artista sobre arquitetura e uma suposta tensão criada entre a obra e a
arquitetura do CAM, como vi escrito algures mas não descortinei.
A exposição
não envergonha, mas só isso. Não é o que precisamos nem o que a Gulbenkian nos
pode dar neste momento de definhamento geral e cultural em particular.
Se é certo
que nos últimos vinte anos a Fundação Gulbenkian deixou de ter, no panorama
cultural português, a centralidade que teve desde o seu início, isso deve-se em
grande medida à existência de novas centralidades que foram surgindo à medida
que o país se desenvolvia e modernizava.
Com a
profunda crise que nos tomou de assalto, o desaparecimento de organizações
culturais menos sólidas e mais dependentes de apoios foi uma fatalidade.
Julgo que é
em momentos destes que uma instituição sólida, e com meios próprios, como a
Gulbenkian, tem um papel, e quase um dever patriótico, de remar contra a maré,
contra o miserabilismo, contra as poupanças de chacha, contra o ideário do “pobrezinho
mas honrado” , contra o imaginário tacanho do Portugal dos pequeninos.
Cabe-lhe
fazer exactamente o contrário: voltar a ser o oásis e o motor da nossa vida
cultural, com iniciativas que nos galvanizem e nos façam acreditar que há vida
para além das crises. Não é o que se está a passar no CAM.
Culpa da curadora Isabel Carlos ou
da tesouraria?
Não sei.
Apenas sinto que a Gulbenkian ameaça ficar mais um cadáver entre tantos que a
crise vai deixando pelo caminho.Oxalá me engane.