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sexta-feira, agosto 17, 2012

Tarefas Infinitas V






















O fogo e o livro por vir

Os livros são perigosos: ateiam-nos fogo. Temíveis: por isso, são atirados ao fogo. Há uma relação íntima entre o livro, o fogo e as cinzas. Como a consciência de que o livro da nossa vida nos pode queimar. De que somos livro a ser escrito. Como um mapa aberto à viagem. A fazer-se e a desfazer-se. De um monte de palavras ou imagens, dessa matéria, formar-se-ão outros livros possíveis, ainda por vir. Ou a reler. Desconhecidos. A biblioteca interminável de Babel. Tarefas infinitas, chamou-lhes Husserl, porque não se limitam ao tempo de vida de um indivíduo e são criação comunitária. O livro, a arte, o pensamento, a ciência. Vêm de longe e dirigem-se para longe. Ao virar a página, no infinito obscuro da origem, dá-se uma explosão de luz que é começo.”

Notas: Texto que acompanha o núcleo "o fogo e o livro por vir" da exposição Tarefas Infinitas na galeria de exposições temporárias do Museu C. Gulbenkian
Imagem do catálogo: António Areal (1928-1978) Confissão tenebrosa: primeira parte da autobiografia agora em edição ilustrada pelo autor, 1971

quarta-feira, agosto 15, 2012

Tarefas Infinitas III





















Linha infinita: história interminável

Um ramo fértil tem origem no livro: a escrita e a leitura são tarefas inacabáveis. Demoradas. Uma linha atravessa o livro, reinventa-se a cada página e transita para outros: como se de um mesmo livro se tratasse. Uma linha imemorial que vem de trás e que nos ultrapassará. Linha infinita que atravessa a História. Os autores contaminam-se. As personagens, citações e ideias migram de uns livros para outros. As leituras cruzam-se criando novos sentidos. Abrem-se estradas, propõem-se passeios e deambulações. O livro exige de nós tempo.


Notas: Texto que acompanha o núcleo "linha infinita: história interminável" da exposição Tarefas Infinitas na galeria de exposições temporárias do Museu C. Gulbenkian
Imagem do catálogo: Ana Hatherly (1929), Mapas da imaginação e da memória, 1973

terça-feira, agosto 14, 2012

Tarefas Infinitas II
















A fenda e a explosão: entrar/sair

Entre as mãos abre-se uma fenda. Uma entrada inesperada que altera a ordem do mundo. Um abismo. Ou uma casa – que oferece um outro modo de hospitalidade. Ou uma exposição no espaço do livro – outro modo de relação com a obra de arte. Mas aí não podemos permanecer. Pelas fissuras do livro saem novas e inesperadas realidades. Aparições. Anúncios que recriam o mundo. O livro tem algo de bomba. Explosão de palavras, ideias, imaginação, sentidos – que destroem e recriam o horizonte de possibilidades em que nos movemos.
E exigem de nós: faz, pensa, vê, sê!”

Notas: Texto que acompanha o núcleo "a fenda e a explosão: entrar/sair" da exposição Tarefas Infinitas na galeria de exposições temporárias do Museu C. Gulbenkian
Imagem do catálogo: Lawrence Weiner (1942), Deep blue sky light blue sky, 2007

segunda-feira, agosto 13, 2012

Tarefas Infinitas I

Para quem gosta de livros e arte há uma exposição imperdível Tarefas Infinitas – na galeria de exposições temporárias do Museu Calouste Gulbenkian, até 21 de Outubro 2012.

Com curadoria de Paulo Pires do Vale, a exposição está dividida em cinco núcleos, sendo cada um deles introduzido por um pequeno texto que, aqui confesso, não sei quem escreveu – se o curador, se Gonçalo M. Tavares. De qualquer forma, gostei tanto deles como da exposição e, por isso, os vou reproduzir aqui, um por dia, demonstrando assim que a silly season pode ter pérolas dentro.



“Com o infinito nas mãos

Abrir um livro é correr o risco de encontrar o infinito. Ter ao alcance das mãos, nos limites da página, o sem-limites. E de que outro modo poderíamos nós encontrar o infinito senão no finito?
Mensurável, palpável, visível. Nesse espaço aberto e branco da página, nas suas dobras, pode surgir o sem princípio, nem fim, nem centro: o Livro infinito. Liberdade que é também desorientação: perdem-se as certezas e as referências habituais; os caminhos e sentidos bifurcam-se; a noite cerca-nos. Uma espécie de cegueira: o livro abre uma obscuridade essencial. A dos novos começos.”

Imagem do catálogo: Raymond Queneau (1903-1976), Cent mille milliards de poèmes, 1961