
Às vezes,
demasiadas vezes, interrogo-me se sobre o meu discernimento, por não encontrar
bondade onde tantos outros se derretem, e vice-versa.
Vem isto a
propósito da série Borgen que passa na RTP2, mas que eu nunca tinha visto. Tendo
lido, aqui e ali, bastantes elogios, decidi vê-la agora, no começo de nova
temporada.
E vi: uma
mulher dinamarquesa, que já tinha sido primeira-ministra do seu país, regressa
do estrangeiro e, descontente com o desvio de direita do seu partido,
candidata-se à liderança. Perde.
Num primeiro
momento, afirma na televisão que se retira mas, num segundo momento, decide
formar um novo partido.
Até aqui,
tudo mais ou menos bem, mas também tudo, tudo, já visto no capítulo “Atracção do
Poder”.
O que eu
nunca tinha visto era essa ideia, levada à prática, de formar primeiro um
partido, e pensar o seu programa depois.
Provavelmente,
o programa já nem é importante, ou poderá ser formado apenas pelas “ideias de Brigitte” ; certo é
que, exceptuando a oposição à política de imigração do governo, nada mais ali tem
uma ideia definida.
Ora, isto
parece-me tão inverosímil que não cabe no meu conceito de ficção para adultos.
Numas
instalações manhosas, Brigitte aparece sempre impecável de roupa, cabelo, e
salto agulha, rodeada de gente que defende isto, aquilo e o seu contrário, e
sobre isto e aquilo vai-se dizendo que o partido ainda não tem uma posição
tomada.
Portanto,
improvisa-se.
E o resto é o costume − o centrão e os seus vícios.
Novo, mesmo,
talvez o décor – tudo ali é arquitectura
e design nórdico.
Mas também
isso começa a não trazer nenhuma novidade. E a mim, neste inverno, aqueles janelões abertos para o céu cinzento da Dinamarca apenas me trouxeram mais frio.