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quinta-feira, janeiro 26, 2012

Pergunta muito ignorante

Outro dia, encontrei no Facebook este desabafo:

Isto de ser poupado em tempos de crise e de roubos vários, coincidentes com o inverno, não tem piadinha nenhuma.
Ele é o fechar a torneira no duche e sair de lá com quase tanto frio como se entrou, ele é o ter apenas um aquecedor ligado em vez de vários mais o AC, e andar por casa com tanta roupa como na rua, ele é o usar a água fria para lavar a loiça e ficar com as mãos que nem cubos de gelo...

Quem isto escreveu é uma mulher de 35 anos, licenciada, que vive sozinha e trabalha há mais de dez anos na mesma empresa.
Este é um bom retrato do famoso, desejado, e ativamente procurado pelo governo, “empobrecimento” dos portugueses.

A classe média, que tão laboriosamente fomos construindo ao longo de 40 anos, está agora a passar frio para ver se não passa fome e se consegue pagar as suas contas no fim do mês. Algo de muito semelhante vai acontecendo noutros países da Europa.

Sendo a dita classe média a coluna vertebral das sociedades modernas, a que sustenta o consumo, e através dele o sistema capitalista que, por sua vez, precisa de produzir sempre mais para se manter, a pergunta muito ignorante é esta: o capitalismo tem tendências suicidas ou é apenas moderadamente bipolar?

quarta-feira, dezembro 07, 2011

As nossas desculpas, Sr ª Merkel

Parece que é nos próximos dias que os do costume vão “refundar” a Europa e o euro. Se não resolverem adiar, como também é de costume, diz-se que o caminho da refundação já está mais ou menos traçado – mais austeridade, mais chibatadas nos malcomportados, policiamento atento desses “marginais” e castigo exemplar se pisarem o risco novamente.

A Merkel diz: estas são as minhas regras e quem não quiser pode ir morrer longe.
Eu não quero ir morrer longe, preferia morrer por aqui mesmo, e até gosto da Europa e de ser europeia. Por isso, antes que eles comecem a distribuir chibatadas, e na esperança de atenuar o castigo, quero pedir desculpa à senhora Merkel.

São muitas as faltas, eu sei, mas quero pedir desculpa, em nome de toda a classe média portuguesa, por nos últimos trinta anos termos comprado carro com o mesmo entusiasmo com que os americanos compraram o seu Ford T no princípio do século XX; por acharmos que tinhamos que morar em algum lado e termos comprado um T2 nos subúrbios com uma mensalidade que até era menor que qualquer arrendamento; por termos aceitado as “prendas” que o banco juntava à casa; por termos comprado mais uma televisão para a cozinha; por termos comprado dois pares de botas para o inverno, em vez de um só; por termos provado sushi e muffins; por termos ido tratar os dentes no dentista privado; por termos comprado vacinas “supérfluas” para as nossas crianças; por termos experimentado andar de avião para gozo de oito dias de férias na Tunísia; por termos ligado mais aquecedores em dias muito frios; por termos comprado aulas de música, ou de arte ou de informática ou de inglês para os nossos filhos; por gostarmos de ir à Fnac e, de vez em quando, cairmos na tentação de comprar um livro ou um CD; por em 2010 termos ido ao teatro para lá de 1 milhão e oitocentas mil vezes.

Por tudo isto, e mais umas quantas parvoíces que fizemos, peço desculpa.
Disseram-nos que éramos europeus e quisemos saber como era isso. Foi um erro, está visto, gastámos demais e vamos voltar a ser pobrezinhos mas honrados como o Dr. Salazar gostava.

Também nos disseram que “…a Europa foi construída com base na solidariedade e não da submissão dos fracos aos poderosos”. (editorial do Expresso de 3 de Dezembro), e nós acreditámos, tontos que somos.
Pedimos desculpa, senhora Merkel, mas pode ter a certeza que o fazemos com “uma raiva a nascer nos dentes”.
E isso, não sei porquê, não me parece um bom sinal; nem para si, nem para nós.