Pois, lá fui outra vez a caminho de Praça de Espanha mas,
confesso, fiquei pouco tempo.
Estavam-me a dar demasiada música para tanta raiva.
Os artistas fizeram o seu papel; contudo, aquilo pareceu-me
mais um espetáculo de rua do que uma acção de protesto. Mas gostei muito, por
exemplo, de ouvir a Maria do Céu guerra dizer um poema da Ana Hatherly, grande
poeta e artista visual que quase ninguém conhece neste país. Mas isso já é o
costume, nem vale a pena lamuriar.
Era este o poema:
Esta Gente / Essa Gente
O
que é preciso é gente
gente
com dente
gente
que tenha dente
que
mostre o dente
Gente
que não seja decente
nem
docente
nem
docemente
nem
delicodocemente
Gente
com mente
com
sã mente
que
sinta que não mente
que
sinta o dente são e a mente
Gente
que enterre o dente
que
fira de unha e dente
e
mostre o dente potente
ao
prepotente
O
que é preciso é gente
que
atire fora com essa gente
Essa
gente dominada por essa gente
não
sente como a gente
não
quer
ser
dominada por gente
NENHUMA!
A
gente
só
é dominada por essa gente
quando
não sabe que é gente
Sabes, eu acho que aquilo teria sido uma coisa bem diferente se a CGTP tivesse feito desaguar a marcha contra o desemprego lá, na Praça de Espanha. Mas isso teria sido um verdadeiro sismo nos estereótipos da CGTP. E depois como é que o Arménio falava, como é que se mostrava a força da Intersindical?
Lá por aquela banda, tudo como dantes − nós somos nós, quem quiser que venha atrás.
Nada a fazer.
Olha, esta história de andar sempre na rua também proporciona outras experiências - faz com que encontremos pessoas que já não víamos há muito tempo. E, caraças, como ficamos contentes de nos encontrarmos, e ainda mais de nos encontrarmos naqueles sítios.
Dias agridoces, os nossos, por aqui. Até breve.
Fim de relatório