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quinta-feira, junho 04, 2015

Aprender latim


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quando li esta notícia sobre oferta de aulas de latim e grego no ensino preparatório, o meu coração, que é um bicho esquisito, encheu-se de alegria nas aurículas e de tristezas nos ventrículos.

Alegria, pela extraordinária oportunidade que é dada aos miúdos de hoje de começarem a aprender as línguas mortas antes da vivas e de, com essa fantástica ferramenta virem, quiçá, a perceber porque passou toda a gente a escrever espetador, ótimo ou Egito, por exemplo.

Cá por mim, acho esta escrita tão obtusa que me parece que terá raízes num esquecido decreto, sobre normas de ortografia, publicado por Calígula que, como toda a gente sabe, não batia bem da bola e fumava coisas de pouca qualidade.
Mas a aprendizagem do latim vai ajudar os miúdos a perceber, tenho a certeza, como a tenho sobre a visão de futuro de Nuno Crato.

A tristeza que me inundou os ventrículos advém de eu própria não ter tido tamanha oportunidade quando era pequenina.

É que eu só estudei latim aos 15 e 16 anos e, sendo certinho que não me lembro de nada, posso dizer que gostei muito – não tanto do latim em si, mas desse tempo das cerejas em que eu aprendia (pouco) latim, mas muito sobre…julgo que era química.

quarta-feira, novembro 06, 2013

Manias minhas








 

 
 
 
"Nos tribunais, pelo menos neste, os factos não são fatos, as actas não são uma forma do verbo atar, os cágados continuam a ser animais e não algo malcheiroso e a Língua Portuguesa permanece inalterada até ordem em contrário".

Isto escreveu o juiz Rui Teixeira, ao recusar-se aceitar um relatório escrito segundo o Acordo Ortográfico 1990. Os funcionários do Ministério da Justiça, obrigados por lei ao uso da nova ortografia, tiveram de reescrever o documento, infringindo a lei, sob pena de coima por parte do juiz.

Se é certo que os tribunais não estão ainda obrigados a cumprir o AO, devia ser igualmente certo que a magistratura estivesse proibida de acolher criaturas que se comportam como os palermas semianalfabetos que enxameiam as redes sociais a escrever coisas semelhantes.

Já aqui o disse: não gosto do acordo, não o uso quando não sou obrigada e ainda tenho esperança que se autodestrua.

Porém, dos três exemplos dados pelo juiz, apena acta sofre, de facto, alteração. Até os cágados já deviam saber isso.

Talvez alguns dos opositores do AO achem graça a que um alto magistrado assim proseie. Eu acho que o juiz Rui Teixeira faz mal à causa.
E continuo a não gostar de juízes desinformados, prepotentes e, ainda por cima, armados em engraçadinhos.
Manias minhas!

sexta-feira, julho 19, 2013

Eu desvinculo-me de; os outros, não sei


Já várias vezes escrevi neste blogue sobre o Acordo Ortográfico de 1990.
 
Em finais de 2011 fiz um honesto esforço para o começar a usar, em meados de 2012 desisti, e ganhei a firme convicção de que não voltaria a usá-lo.
O AO é, manifestamente, um acordo político que em nada ajuda à unificação do português; isto na eventualidade, não provada, de ele necessitar de ser unificado.
 
Circularam na internet várias petições contra a sua adopção, e assinei algumas.
Esta chega agora à Assembleia da República para ser discutida; justamente uma que não assinei.
 
O motivo por que não assinei prende-se com a estranheza que o título me provocou − Petição pela desvinculação de Portugal ao 'Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990' (AO90).
Sempre achei este português muito macarrónico mas, se era escrito por tanta gente com pedigree linguístico, o problema devia ser meu; passei, pois, adiante.
Ontem, quando me deparei com a notícia do Público e, de novo, com o nome da petição, voltei a sentir o incómodo já anteriormente experimentado.
 
Para mim, sempre foi simples: vinculo-me a e desvinculo-me de, mas desta vez resolvi tirar o assunto a limpo. Peguei no dicionário de verbos da Porto Editora, nada de especial, portanto, e na parte das regências encontrei na página 707
 - desvincular (-se) – de: desvinculou-se do contrato; desvinculou-se da sociedade.
Na página 756:
- vincular-se – a: vinculou-se ao clube desportivo; por: vinculou-se por escrito.
 
Assim, a petição, no meu entender, devia ter como título:
Petição pela desvinculação de Portugal do 'Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990' (AO90), ou Petição pela não vinculação de Portugal ao 'Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990' (AO90).
 
Se eu estiver enganada, corrijam-me, por favor.
É que não tenho pedigree linguístico, mas sempre me desvinculei de.
Agradecida.

segunda-feira, janeiro 21, 2013

AO & Fashion

Na sua crónica de sábado passado no Expresso, Miguel Sousa Tavares volta ao triste Acordo Ortográfico e à inusitada e ridícula situação de hoje haver três grafias oficiais do português.

Na revista do mesmo jornal, surge um artigo sobre os blogs de moda.

São oito os blogs e chamam-se: Fashion-à-Porter, Stylista, Fashion Rules, Lab Daily, The Stiletto Effect, …And This Is Reality, Janela Urbana e O Alfaiate Lisboeta.

Como se vê, 75% destes portugueses, maioritariamente trintões, escolheram o inglês para dar título ao seu blog.

Voltando ao Miguel Sousa Tavares, ele escreve, e eu concordo, que “há coisas que nenhum país independente cede sem estremecer: o território, o património, a paisagem, a língua.”

Concluo que este é um país “firme e hirto como uma barra de ferro” já que nada o faz estremecer – se o território lá se vai mantendo, o património é o parente pobre a quem se dá o que sobeja do, sempre parco, orçamento doméstico; no que toca à paisagem, temos feito tudo o que está ao nosso alcance para a desfigurar, e quanto à língua… as novas gerações evitam-na, e o normal é não saber pontuar, acentuar, grafar ou, sequer, fazer concordar (Pedro Passos Coelho é disso o exemplo maior).

Escrever em português parece ser, cada vez mais, uma extravagância um bocado saloia; está absolutamente out.
Em breve nos entenderemos apenas em inglês, e o AO passará a ser um não-assunto.
Será o momento de, por aqui, voltarmos todos a dormir na santa paz própria dos animais de sangue frio.

segunda-feira, abril 09, 2012

No limbo

Parece que já toda a gente tomou uma posição definitiva sobre o Acordo Ortográfico, excepto eu.

Comecei por ficar mais ou menos indiferente, e de raciocínio mais ou menos preguiçoso, no pressuposto de que já houve outros acordos a que toda a gente se habituou. O computador tratou do assunto e mesmo agora eu escrevi excepto e ele comeu-lhe logo o p; como insisti, ele marca-me erro.

Comecei, então, a escrever segundo o acordo, mas verifiquei que não sou capaz de escrever espetador em vez de espectador, ou para em vez de pára, entre outras.

Desta feita, já que, afinal, uns dizem que está em vigor e outros dizem que não, decidi voltar à escrita antiga até que os mandantes se entendam. Porém, isto de estar sempre a desfazer o que o computador me desfaz é muito cansativo.

Às tantas, e com todas as excepções, acho que já nem sei escrever, fico cheia de dúvidas atormentadoras. Será assim? será assado? levará hífen? dobrará a consoante? perdeu o acento? Uma canseira.

Leio jornais com Acordo e jornais sem Acordo, livros com Acordo e livros sem Acordo, legendas com Acordo e legendas sem Acordo. Só ainda não testei a bula dos medicamentos.

Dantes, com regras bem definidas ainda se percebiam os erros. Agora, cada um escreve como quer está sempre bem.

Podemos estar a viver no purgatório mas quanto à escrita, já não há “pecado”. O país escrevente vive no limbo, e eu com ele.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Venerável Vasco

Vasco Graça Moura nunca escondeu que não gosta do AO, (eu também não) mas a atitude que tomou ao entrar no CCB é um ato de desobediência civil.

Ou talvez seja só rebeldia, não sei.

Se calhar nunca foi rebelde em novo e por isso, admito, resolve experimentar agora, numa altura da vida em que os atos de rebeldia podem ser desesperantemente parecidos com arrogância, mas nunca com coerência, como tenho visto por aí.

Sim, acho que é rebeldia tout court, daquela fácil de ter quando sabemos que nada nos acontece.

Venerável Vasco sabe disso.

Assim, à entrada, declara que naquele tasco, que parece ser só seu, ninguém vai escrever segundo as novas regras.

Que faz o governo que o nomeou?

Ora, o costume nestas situações que metem veneráveis: acobarda-se e desdiz o que está dito – o AO entra em vigor a 1 de Janeiro de 2012, não, não, foi engano, obrigatório mesmo só em 2014. Desculpe lá ó Vasco, faça como quiser, esteja em sua casa, disponha.

Da coluna vertebral do Viegas, que já tinha dado a “palavrinha” a Mega Ferreira e lha retirou prontamente quando lhe lembraram que ele não manda nada, e que é grande defensor do AO, nem digo nada. Não devemos falar daquilo que não existe senão em conversas de especulação filosófica, o que não é aqui o caso.

quinta-feira, dezembro 22, 2011

Aprender a escrever, de novo

Em 11 de Fevereiro 2011, publiquei neste blogue um post sobre o Acordo Ortográfico mas, quem me leu de Fevereiro a Dezembro, percebeu que acabei por não obedecer nem ao computador nem ao Acordo.

Sei que a escrita já mudou muitas vezes e ainda mudará muitas mais mas, sinceramente, não vejo a utilidade deste acordo que serve, supostamente, para aproximar as escritas de Portugal e Brasil quando, de facto, o que nos separa, e dificulta o entendimento, é o léxico, e muitas vezes a sintaxe e a morfologia. (Daí os brasileiros já legendarem os filmes portugueses).

No que toca à ortografia em si, também não se percebe que raio de “unificação” é esta que permite milhares de grafias diferentes entre a variante europeia e a brasileira.

Tendo resistido, até aqui, ao uso da nova grafia, parece que não terei outro remédio senão adoptá-la (ou adotá-la), porque é oficial – em Janeiro (ou janeiro) entregaremos o ouro ao bandido (entenda-se aqui ouro como a língua portuguesa e bandido o negociador medíocre).

Trata-se, portanto, de encerrar o ciclo da resistência, o que talvez até nem seja mau de todo; talvez seja sensato que se guardem as forças de “resistência” para a outras coisas bem mais importantes e urgentes que um apalermado Acordo Ortográfico.


Nota: No Portal da Língua portuguesa encontra-se o Vocabulário da Mudança, que pode ser útil a todos no início deste tempo em que teremos que aprender a escrever, de novo.

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Eu e meu computador


O meu computador ganhou vida própria, emancipou-se e decidiu que é ele quem manda.
Se eu escrevo activo, ele nem se dá ao trabalho de assinalar o erro – muda imediatamente para ativo, se escrevo factura, decide por si e escreve fatura, e segue por aí fora numa fúria corretiva, e não correctiva, qual professor paciente mas implacável.
Percebi que me tomou a dianteira e, sem aviso prévio, aderiu de alma e coração ao acordo ortográfico.
Não tomo isso como uma afronta porque não creio que daí venha algum mal ao mundo, embora também me pareça que não virá grande ganho.
Olho para as novas regras ortográficas e parece-me que este é um acordo em perda, quero dizer, é um fartote de perdas. Ele é consoantes mudas, hifenes, acentos, maiúsculas e, talvez, um monte de outras coisas que ainda desconheço.
O que sei, por agora, é que nunca mais escreverei que passei a mão pelo pêlo do gato, mas sim que passei a mão pelo pelo do gato; também nunca mais ninguém pára para ver a banda passar, só para para ver a banda passar.
Perdem-se hífenes mas ganham-se muitos erres e esses que criam novas estruturas estranhas para os olhos do leitor, como será antirregulamentar ou antissocialista.
Tudo bem, havemos de nos habituar, como sempre nos habituamos a tudo mas, cá por mim, nunca vou deixar de lamentar a perda do hífen nas formas monossilábicas do verbo haver quando estão antes de preposição. Toda a gente há-de escrever há de e eu hei-de (ou hei de) sempre achar aquilo estranho, até porque me deu uma trabalheira a aprender na escola primária e não foram poucas as vezes em que uma professora (essa também implacável mas pouco paciente) me gritou aos ouvidos – “há, tracinho, de”
Agora, adeus tracinho.
A despromoção dos meses também não me é simpática e acho mesmo que eles não a mereciam. Já não faço anos em Junho mas sim em junho e o Natal deixou de ser em Dezembro e passou a ser em dezembro.
Bom mesmo, é que ganhámos três novas letras – K, W,Y, o que nos dá muito jeito.
Acredito que me falta aprender quase tudo sobre o acordo ortográfico, mas garanto que este texto já me deu muitíssimo trabalho a escrever. É que isto de estar sempre a corrigir o computador tem o seu quê de mundo às avessas.
Assim, a partir de hoje, ele escreverá como quiser e eu obedeço.