
Uma dessas
crianças era minha.
Estivemos lá
cinco dias, como era prática nesse tempo, e, apesar de ser Páscoa, não nos
faltou nada; nem médicos, nem cuidados de enfermagem, nem fraldas, nem
medicamentos, nem vacinas, nem o teste do pezinho. À saída,
também não pagámos nem um tostão.
Daí para a frente, o SNS sempre nos acolheu quando precisámos, a escola e universidade públicas também ensinaram a criança feita menino, depois adolescente e, finalmente, homem.
Há trinta
anos éramos um país pobre e atrasado, o 25 de Abril estava a fazer apenas nove
anos, o FMI andava por cá tal como agora anda a troika, mas as crianças continuavam a nascer.
E o Estado nunca deixou de cumprir as
suas obrigações.
Saímos dessa
crise e de outras; por várias vezes prosperámos.
A crise que
agora vivemos, apesar de violenta, encontrou à chegada um país inegavelmente
diferente do de 1983; um país que entretanto evoluiu, se modernizou e ficou,
literalmente, mais rico.
Porém, é
agora que nos vêm dizer que não há dinheiro para o SNS ou que é preciso pagar e
degradar a escola pública.
E é também
agora que as crianças não nascem.
É o fim da
linha e dá vertigens − é o mundo ao contrário.