No dia 16 de Janeiro escrevi aqui que, aos poucos e como se não fosse nada muito importante, íamos ouvindo falar do aumento do preço dos alimentos. Terminava com uma nota optimista dizendo “A verdadeira boa notícia disto tudo é que o preço dos alimentos sobe, sobretudo, porque há mais gente no mundo que COME TODOS OS DIAS.”
Era verdade, mas não era a única razão. As secas, fogos, inundações (alterações climáticas, talvez) verificadas em vários países que são grandes produtores sobretudo de cereais, eram também causas importante. Mais procura, menor oferta, e as leis do mercado em funcionamento.
Foi esta escalada de preços que esteve na origem, e deu forte impulso, às grandes manifestações na Tunísia e no Egipto, manifestações que acabaram a derrubar regimes e a contaminar outros países árabes, como a Líbia, grande produtor de petróleo. Assim, com a incerteza, o petróleo aumenta de preço e os alimentos aumentam ainda mais, por causa do petróleo. Estamos, portanto, em roda livre. Tudo tem que ver com tudo.
A minha nota optimista de Janeiro continua a justificar-se, mas apenas em parte. É que, segundo li aqui " O Banco Mundial alertou hoje que a escalada nos preços dos produtos alimentares atiraram mais 44 milhões de pessoas para uma situação de “pobreza extrema”.
É a velha história – são sempre os mais pobres dos pobres que pagam os efeitos das intempéries, da especulação e da ganância, ou, usando a provérbio imortalizado pelo nosso querido José Cardoso Pires em Dinossauro Excelentíssimo, confirma-se que “quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão” - “esse marisco mais que todos humilde, só tripa e casca”
Nota: a minha edição de Dinossauro Excelentíssimo é de 1973, editora Arcádia, e custou 120$00 . Levei tempo a poupar para o comprar mas, na altura, não tinha importância, porque os livros mantinham-se nos escaparates das livrarias bem mais do que 3 ou 4 semanas como hoje acontece.