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27 de fevereiro de 2013

Em poucas horas ficou viral

Há, na vida, coincidências que nos deixam boquiabertos.

Hoje tinha decidido escrever sobre dois artistas visuais − Manuel João Vieira e Marina Abramovic.

Esta estranha combinação nasceu duma notícia do Expresso, segundo a qual  o artista Manuel João Vieira vai criar uma réplica da sua casa na Cordoaria Nacional para lá morar durante uns dias, e diante do público.

Pensei que, com franqueza, não me apetece nada ir ver o MJV a ler o jornal, tocar guitarra, cortar as unhas, pintar uma tela, ou a fritar uns douradinhos para o almoço.

Como os pensamentos são como as cerejas, ou pior, lembrei-me de como, pelo contrário, gostaria de ter ido ao MoMa de Nova Iorque em 2010 a quando da performance The Artist is Present de Marina Abramovic.

Há 40 anos que Marina testa os limites do seu corpo, desafia o perigo, não distingue vida e arte, e com isso perturba, gera em mim atracção e repulsa, medo e plenitude, prazer e choque.

Na referida performance, Marina sentava-se sete horas por dia no hall do museu e os visitantes iam-se sentando diante dela, em silêncio, podendo ficar o tempo que quisessem, mesmo que as filas lá fora fossem monumentais. Aconteceu de tudo um pouco com o público mas, no meu imaginário, se eu me sentasse ali diante dela, faria com o meu espírito o que fazemos com o corpo quando usamos tampões de silicone nos ouvidos – começamos a ouvir todos os ruídos do interior do nosso corpo; olhando Marina em silêncio, começaria a ouvir o mais ínfimo gemido da minha alma, e isso podia se arrasador, mas eu queria, oh se queria!

Voltando às coincidências do início da conversa, vale a pena lembrar que, se a performance foi muito falada em 2010, daí para cá parecia-me ter caído no esquecimento. Contudo, mesmo antes de começar a escrever este texto, encontrei no Facebook um post sobre um magnífico momento da The Artist is Present acompanhado dum pequeno filme que o ilustra; em poucas horas ficou viral. Espantoso.

Transcrevo o texto que alguém escreveu no Facebook, ressalvando que não era um minuto para cada pessoa, mas o tempo que cada visitante aguentasse, e deixo também o filme de 4 minutos que, a esta hora, já toda a gente viu.

E sim, há coincidências do caraças.

Retirado do Facebook

"Nos anos 70, Marina Abramovic viveu uma intensa história de amor com Ulay. Durante 5 anos viveram num furgão realizando todo tipo de performances. Quando sentiram que a relação já não valia aos dois, decidiram percorrer a Grande Muralha da China; cada um começou a caminhar de um lado, para se encontrarem no meio, dar um último grande abraço um no outro, e nunca mais se ver. 23 anos depois, em 2010, quando Marina já era uma artista consagrada, o MoMa de Nova Iorque dedicou uma retrospectiva a sua obra. Nessa retrospectiva, Marina compartilhava um minuto de silêncio com cada estranho que sentasse a sua frente. Ulay chegou sem que ela soubesse... e foi assim."

 
 

 

12 de dezembro de 2012

O Caderno Vermelho

A propósito do post de ontem, e das coisas estranhas ou difíceis de explicar que nos acontecem, lembrei-me do livro “O Caderno Vermelho” de Paul Auster.

São pequenas histórias, todas verídicas, segundo o autor, que assentam, sobretudo, no acaso (tema que lhe é caro), narrando acontecimentos bizarros e coincidências quase do outro mundo. São histórias que em algum momento da vida podem acontecer a qualquer pessoa, que impressionam no momento, mas depois esquecemos. Contudo, o escritor não esqueceu, e com elas compôs um pequeno e delicioso livro.

Quando, nos dias que correm, entro numa livraria, tenho frequentemente a sensação de que o mundo da edição, por aqui, é consumidor regular de cogumelos alucinogénicos; outras vezes, penso que adoptaram o modelo das fábricas de enchidos – entra porco e, logo, logo, sai salsicha.
Tantos livros, tantos autores, tanto colorido, tanto design kitsch, tudo reduzido a picado daí a poucas semanas.

Não estranhei, por isso, não ter encontrado, nas buscas que fiz na internet, O Caderno Vermelho”, livro publicado há já um bom par de anos, mesmo sendo este um país de leitores fiéis de Paul Auster.
Apenas a livraria Bulhosa me diz: “Disponível entre 3 a 5 semanas (sujeito a confirmação) ”, pelo preço de 1,50 €.

Assim sendo, este é um daqueles livros que vale a pena procurar na biblioteca pública. É tão pequeno que podemos ficar lá a lê-lo, e sair daí por uma hora com sentimentos misturados de encantamento e espanto.
E ainda com um sorriso nos lábios.