
Sempre achei
que Octávio Teixeira pertencia ao grupo minoritário de comunistas que não sofre
de daltonismo e, se não consegue ver as sete cores do espectro, vê, pelo menos,
umas quantas.
Foi-se-me a
convicção ao ouvi-lo ontem no Conselho Superior da Antena 1.
Falando
sobre a grave situação de Kiev, e também da Venezuela, Octávio Teixeira reduziu
tudo aos interesses geoestratégicos das potências, e chegou a dizer que os
Estados Unidos querem fazer na Venezuela o que fizeram no Chile − como se Obama
fosse Nixon e nada tivesse mudado na vida, e no mundo, ao longo das
vertiginosas quatro décadas que vão de 1973 e 2014.
Por sua vez,
na Ucrânia, e para Octávio Teixeira, tudo se resume a uma luta entre os
interesses (ilegítimos) dos Estados Unidos e da União Europeia, por um lado, e
os (mais ou menos legítimos) da Rússia, por outro.
É absolutamente
certo que esses interesses existem e são poderosos; é também verdade que os
povos podem ser por eles instrumentalizados, mas não me parece que as pessoas,
de qualquer parte do mundo, venham para a rua e lá permaneçam (sobretudo com
temperaturas negativas) só porque sim.
Percebi
ontem que para o comunista Octávio Teixeira há certezas que, para mim, são um
pouco surpreendentes. A saber:
- os povos
não “riscam” nada – é tudo geoestratégia.
- na sua
visão a preto e branco, os maus são, em todas as situações, os EUA e a União
Europeia.
E aqui, deixo-me
rir.
É que eu
ainda sou do tempo em que, sendo a União Soviética e a China irmãs desavindas,
o PCP estava do lado da primeira. Quando ela se desfez em pó, passou a estar do
lado do anterior inimigo, a China, indiferente ao seu capitalismo selvagem.
Agora, com a
questão ucraniana, Octávio Teixeira volta à casa de partida e está do lado
desse grande democrata, comunista e paladino dos direitos humanos chamado Putin.
E eu, posto
isto, vou ali chorar um bocadinho que esta gente toda só me dá desgostos.