João Tabarra
é um artista visual nascido em Lisboa em 1966.
Tem,
portanto, 48 anos, e tem também agora, no CAM da Gulbenkian, uma exposição que
eu ainda não vi.
Mas li o
extenso artigo,de duas páginas, que escreveu sobre o filme “Fúria de
Viver”, e que o Ípsilon de 21 de Março generosamente (?) lhe publicou.
Digo
“generosamente” porque dir-se-ia estarmos perante um texto de amador, caso não
se soubesse que o seu trabalho inclui a escrita sobre cinema em revistas da
especialidade.
Tendo por
base as experiências dos seus múltiplos visionamentos do referido filme, aproveita
para escrever algumas trivialidades contra a iliteracia, a decadência
intelectual do país, as horríveis pipocas no cinema, e também algumas considerações
pessoais e existenciais.
Tudo muito
levezinho e superficial, assim tipo blogue.
Sobre o 25
de Abril escreve “Sabemos hoje que este
foi o mais efémero de todos os sonhos, se é que o chegou a ser, destruído pela
chegada dos políticos e pela apressada organização dos seus jogos de poder”.
Ora, então,
cá está a “conversa de taxista” pela pena do respeitável artista.
Tendo o 25
de Abril chegado quando Tabarra tinha 8 anos, e sendo de família modesta como
afirma, apetece-me perguntar-lhe quem terá criado, neste país, as políticas que permitiram
tratar-lhe de borla as amigdalites ou o sarampo, o vacinaram de borla, lhe
proporcionaram desporto de borla se o quisesse, e estudos de borla até que
quisesse?
Quem terá,
afinal, criado as políticas que lhe permitiram ser muito daquilo que hoje é, a
custo mais ou menos zero para a sua família de origens modestas?
Talvez
tenham sido os políticos que João Tabarra despreza tão global e levianamente;
desresponsabilizar-se, não fazer distinções, crucificar os políticos tout
court é conversa de taxista, sim.
Lá mais para
o final do artigo, conta o artista que a última vez que reviu o filme foi no
dia 7 de Agosto, e escreve: “Notei
muitos outros pormenores cinematográficos em que não tinha reparado antes,
daqueles que é melhor deixar para os autoproclamados especialistas…”
Eu não
percebo muito bem onde ele quer chegar.
Notar “pormenores
que é melhor deixar para os autoproclamados especialistas” quer dizer
exactamente o quê? Então ele não é especialista? Parece que é! Então e não viu antes? Mas, afinal, viu depois? E porquê autoproclamados?
Não tenho a
certeza, mas parece-me que, depois de tão claramente demonstrar desgosto pela
miséria intelectual a que chegámos, também João Tabarra cai no abismo, e mostra
que não tinha imunidade a um vírus, altamente patogénico, que por aí circula, e que
é causador de muita da nossa actual miséria intelectual – aquele que despreza,
e até hostiliza, os que aprofundam conhecimentos em campos de estudo subjectivos.
Ele chama-lhes
“autoproclamados especialistas”, o
vulgo chama-lhes pseudo-intelectuais. É uma praga.
Terei que ir
ver a exposição de João Tabarra. Talvez goste mais do seu trabalho do que das
suas ideias, quem sabe.
Nota: artigo disponível aqui