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sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Portuguesinha de gema

Lá em casa sempre ouvi um ditado assim: “dos teus dirás mas não ouvirás”.

As gerações que nos precederam eram fecundas em aforismos. Estes constituíam, no seu entender, verdades incontestáveis que lhes serviam para rematar, ou melhor dizendo, matar, as conversas em que nos mostrávamos mais “respondões”.

Certo é que eles me entraram no ouvido e muitas vezes me vêm à memória, embora hoje não sirvam para nadinha porque há muito tempo que ninguém está disposto a aceitar aforismos seguidos de ponto final.
Contudo, portuguesinha de gema que sou, tendo a descair para o lado do “dos teus dirás mas não ouvirás”

Vem de lá Merkel e diz que há túneis a mais na Madeira.
A gente sabe que os túneis foram feitos com dinheiro dos fundos estruturais, todos aprovados em Bruxelas, e por isso ela não pode pôr o corpinho todo de fora.
Mas, no fundo, e se virmos bem as coisas, a mulher até tem razão, só que aquilo dito por ela chateia-me, pá.

Depois vem um tal Schulz dizer que nos andamos a meter demais com más companhias – para ele Angola, para mim, China e Angola.
Ora, ele sabe que para pagar o que lhe devemos e mais os juros usurários que nos exigiram, vamos ter que vender as joias a quem der mais.
Quer receber o dinheirinho? O melhor é deixar- se de moralismos e nem perguntar por onde andámos para o arranjar.
Mas, no fundo, e se virmos bem as coisas, o homem até tem razão, só que aquilo dito por ele chateia-me, pá.

É óbvio que o velho “dos teus dirás mas não ouvirás” foi coisa que me ficou, o que, em boa verdade, também me chateia um bocado.

terça-feira, janeiro 31, 2012

Não te entendo, moço.

O rapaz que há uns meses aceitou um trabalho temporário como Secretário-geral do PS e que dá pelo nome de António José Seguro, tem o condão de me pôr a desconfiar da minha própria literacia.

Primeiro foi aquela história da “abstenção violenta” do PS na votação do Orçamento de Estado.
Corri dicionários, enciclopédias, prontuários, gramáticas e até fui ao Ciberdúvidas  para tentar perceber o sentido de tão arrevesada locução. Nada.

Ainda mal refeita deste trauma, eis que me aparece de novo Seguro com afirmações sobre as negociações da dívida da Madeira que cito:

"É um acordo entre familiares do PSD, que aplica àquela região autónoma a mesma receita do Continente, isto é, empobrecer", disse o líder socialista, acrescentando que a Madeira "vai ser duplamente prejudicada" com esta opção.” (daqui)

Ora, é sabido que há famílias muito desavindas ou até, para ser moderna, disfuncionais, mas o mais normal é haver entreajuda entre familiares. Com esta frase, a gente pensa que ele vai dizer que houve favorecimento mas, qual quê, a seguir diz que a Madeira "vai ser duplamente prejudicada".

Se isto se transpusesse para num cartoon, eu apresentar-me-ia, certamente, com os olhos revirados e um balão de fala cheio de pontos de interrogação.

Não consigo entender o rapaz, mas isso não é grave, é só iliteracia minha. Grave mesmo é que me parece que ele também não se entende a si próprio.

segunda-feira, setembro 26, 2011

Nós e a chinela

Muito se tem escrito ultimamente sobre a Madeira e o seu governo.
Há quem conheça bem a realidade do arquipélago, como aqui, e nos mostre as razões para o que por lá acontece.
Aqui, pensa-se que a democracia não permite criminalizar os responsáveis políticos e que devem ser os eleitores a puni-los.
São pontos de vista válidos e que podem enriquecer o conhecimento e o pensamento de quem os lê mas, creio, ninguém tem dúvidas de que Alberto João Jardim vai renovar a sua maioria absoluta.
Para além de todas as boas razões apresentadas, do real défice democrático na Madeira e do sentimento de vitimização que os madeirenses devem estar a experimentar neste momento, creio que há uma outra poderosa razão para a reeleição de Jardim – o pouco ou nenhum valor que os portugueses, hoje em dia, dão à ética e à moral, parceiras indispensáveis dum julgamento político em democracia.
Somos muito moralistas e indignamo-nos quando sabemos de compadrios e favorecimentos, corrupção dos “poderosos” e ganhos ilícitos mas, ao pé da nossa porta, e em concreto, preferimos esquecer. Não é nosso hábito reeleger Isaltinos, Felgueiras, Loureiros ou Avelinos? Desde que façam obra, a gente quer lá saber. São todos iguais, e este, ao menos faz. Também é frequente que nos seja transmitida uma ideia do tipo - tens é inveja do sucesso deles.
Há um fatalismo egoísta e amoral em afirmações destas que, em síntese, desprezam os valores democráticos e escondem uma outra característica dos portugueses: demasiadas vezes “foge-nos o pé para a chinela”.

segunda-feira, setembro 19, 2011

Confirmadas as piores previsões de Van Zeller

Segundo os jornais, o Ministério da Administração Interna será o único a não ter cortes, antes pelo contrário. Pretende-se acalmar os polícias, vítimas de muitas injustiças, ao contrário de todos os outros portugueses. E porque devem estar calmos e bem dispostos? Porque se avizinham motins, ruas incendiadas, protestos, e é preciso que estejam prontos e com disposição para a bordoada.
Este é o pensamento governamental. Por mim, acho que se vão arrepender de fazer essa despesa porque ela não será necessária. Já se viu povo mais ordeiro, cumpridor e pagador? Veja-se o caso da dívida destapada da Madeira. Esperei durante todo o fim-de-semana que alguém tivesse uma ideiazita para exprimir a indignação colectiva; não precisava de ser nada muito elaborado nem de nos tirar o rabo da cadeira, e até os polícias podiam participar numa brincadeira do tipo daquela que fizemos com o Bill Clinton por causa de Timor. Lembrei-me que, por exemplo, podíamos entupir as caixas de correio electrónico do governo regional com minutas de facturas do tipo:
Festas com palhaços – 1700 milhões de euros
Festas com fogo-de-artifício – 1700 milhões de euros
Festas diárias durante 31 anos - 1700 milhões de euros
Mas não, não aconteceu nada, a não ser quilómetros de douta prosa sobre o assunto.
Quando vi as declarações do ex-patrão dos patrões Francisco Van Zeller que disse:
“O povo tem de ir para a rua protestar contra os "sacrifícios" impostos pelo Governo e as políticas de austeridade da 'troika'. Se não for feito, "ou somos parvos ou estamos mortos", confirmei que somos parvos e estamos mortos; só o governo ainda não percebeu. Sorte a dos polícias.