D. Januário é cidadão deste país, e terá as suas opiniões,
mas quando abre a boca, queira ou não, é sempre bispo, é a Igreja que fala, e
eu gosto da Igreja a tratar dos assuntos divinos.
A política e, sobretudo, a avaliação dos políticos, está
claramente fora do seu âmbito de acção.
Haverá muita gente a bater palmas, a aplicar adjetivos como
corajoso ou desassombrado, mas quem o faz esquece-se que está a abrir a porta
para tolerar que a Igreja se meta em muitos outros aspectos da vida secular,
nos quais, pessoalmente, não admito que se meta – caso do aborto, do uso do
preservativo, ou dos apelos feitos do púlpito para votar no partido A ou no
partido B.
O desbragamento oratório do senhor bispo é, quanto a mim,
intolerável; viveremos sempre muito melhor continuando com a sólida separação entre
a Igreja e o Estado.
Ou, mais prosaicamente, cada macaco em seu galho.
Trate das almas, D. Januário, ajude os pobres, cumprindo a vocação
assistencialista da Igreja, mas deixe a política, os políticos, as leis e a
vida privada connosco.