Mostrar mensagens com a etiqueta Verão. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Verão. Mostrar todas as mensagens

20 de agosto de 2014

Verão II - Do Sorriso























O SORRISO

Creio que foi o sorriso,

o sorriso foi quem abriu a porta.

Era um sorriso com muita luz

lá dentro, apetecia

entrar nele, tirar a roupa, ficar

nu dentro daquele sorriso.

Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

Eugénio de Andrade

UAU!!!

Também aqui, mas p'ra pior.

Imagem: Nuno Cera, no CAM da Gulbenkian
 

18 de agosto de 2014

Verão I – Do Nada









 
 
 
 
 
 
 
 
 
Foto: Alfredo Muñoz de Oliveira Photography no FB
 
----

“Enquanto escrevo, pensar constantemente que nada acontece na minha vida e que é pelo nada que devo estar grata.”

Susana Moreira Marques
“Volte sempre”
Notas de trabalho para uma autobiografia
Granta Portugal |3

13 de agosto de 2013

Notícias do Verão I



















A tecnologia tornou possível uma crescente difusão da mentalidade que vê o mundo como um conjunto de potenciais fotografias.

Susan Sontag,  Ensaios sobre fotografia

22 de junho de 2012

Já é verão





…mas continuamos à espera de dias de verdadeiro sol. Numa boa companhia.

Bom fim de semana.



9 de agosto de 2011

O elevador

O elevador do hotel da praia é uma espécie de Arca de Noé dos tempos modernos.
“Sobe que sobe, desce que desce”, sempre carregando gente no seu bojo, mas também tralhas, aromas e estados de alma
Pela manhã, o elevador transporta restos de sono e sonhos vestidos de calção, t-shirt e sandálias. Geralmente não tem cheiro, mas pode pairar no ar um subtil aroma a sabonete.
Ao longo do dia carrega homens, mulheres, velhos, novos, crianças de todos os tamanhos, mas também sacos de praia a abarrotar de “coisas”, toalhas, sombrinhas, cadeiras, colchões, carrinhos de bebé, cadeiras de rodas, baldes, pás, chapéus. Enfeita-se então de fato de banho ou biquíni, saída de praia, óculos de sol e chinela no pé. Cheira a sal e sol, protector solar e suor.
Leva sempre muitos, apertadinhos uns contra os outros; quase se pode apalpar a claustrofobia, o mal-estar ansioso, o desagrado pela excessiva proximidade de corpos estranhos, a sufocante ausência de espaço vital, o cansaço e o silêncio.
Ao pôr-do-sol o elevador desce já lavado; jovens de cabelo ainda molhado, senhoras bem penteadas (como o conseguirão?).
No ar misturam-se aromas de todas as águas-de-colónia da moda, e veste-se com vontade de parecer bem.
De noite, volta a subir e a cheirar de novo a sono e sonhos, mas também a sexo, álcool, erva, azia e escaldão.
Por umas horas, descansa.
Para logo recomeçar o seu interminável “sobe que sobe, desce que desce”.

27 de julho de 2011

Olhando os outros

Elas chegavam impreterivelmente às 18h30. Todos os dias.
Iguais. Apenas separadas por trinta anos de vida vivida, ou por viver.
As cadeiras de praia e a sombrinha previamente alugadas lá estavam à espera,
paralelas mas ligeiramente oblíquas em relação ao mar. Procuravam o sentido do sol, uma um pouco atrás da outra.
O ritual começava então.
Dos enormes sacos saiam duas toalhas rigorosamente iguais, com riscas azuis e amarelas, que eram estendidas nas cadeiras e presas na parte superior da lona com gestos precisos e domésticos. Os sacos eram colocados nos assentos e tapados com a parte restante da toalha. A filha tirava rapidamente a “saída de praia”, calçava os sapatos de plástico, alinhava com o elástico o cabelo já alinhado, e dirigia-se para a beira da água. Para lá e para cá, trinta passos de cada vez. Tinha a posição corporal do atleta nos momentos de concentração antes da prova que preparou durante todo o ano. Cabeça ligeiramente flectida, passos certos e cadenciados, a suave palmada na coxa, como que para descontrair a mão, ou afugentar o medo de falhar.
Contudo, o seu corpo não tinha nada de atlético. Miúdo e magro, razoavelmente moldado no biquíni discreto.
De vez em quando permitia-se sair da concentração e, com um olhar furtivo, averiguava o estado de preparação de sua mãe para o banho de mar.
Esta, tomava o seu tempo. Despia a bata, colocava o boné verde, calçava uns ténis, punha batom protector, arrumava e tornava a arrumar. Quando terminava, com inequívoco sinal de maior minúcia materna, quebrava a sintonia recolhendo os cantos da toalha sob o saco, como quem faz a cama.
Finalmente pronta.
A filha prontamente acorria, dava-lhe um esvoaçante mas terno beijo no ombro, pegava-lhe na mão e caminhavam assim, durante muito tempo, por dentro do mar chão e prata do entardecer.
Nunca vi a mãe beijar a filha.