Declaração segunda: não tenho nenhum.
Declaração terceira: sou ambivalente em relação a Steve Jobs.
Pela blogosfera, Facebook e jornais, tenho lido belas e tocantes homenagens a Jobs após a sua morte. Reconheço o seu génio criativo, fascino-me com os seus iqualquercoisa (gosto de todos) mas não me consigo desligar do outro lado de ver.
Já aqui escrevi sobre uma parte do outro lado; contudo, o pior mesmo, é que eu acho que ele encarnava a essência do capitalismo nonsense em que alegremente nos enredámos.
O que esse capitalismo sabe fazer de melhor para sobreviver, é criar em nós necessidades que nem sabíamos que tínhamos; inventa constantemente, manda fabricar a custo irrisório – pagando o mínimo a quem, em desespero de causa, faz qualquer coisa para sobreviver, e vende depois a preços tentadores.
Para nosso deleite, existem batalhões de escravos, meninas de dedos fininhos mas já quase cegas por trabalharem em tudo o que é micro, lixo e mais lixo no planeta. Em boa verdade, por mais voltas que dê, continuo a achar que não precisamos da maioria dos iqualquercoisa para nada. Eles apenas nos fazem felizes.
Sem deixar de reconhecer o génio inventivo de Steve Jobs, creio que, ao contrário de muitos outros, não trouxe um extraordinário benefício para a humanidade; trouxe, maioritariamente, felicidade efémera para a parte rica do planeta onde se transformou num ícone. Será isso despiciendo? Não dirá isso tudo sobre nós?
Um dia decidirei se vou continuar eternamente às voltas no labirinto ou se opto pela velha lapalissada – as coisas são como são.
Há ainda uma terceira hipótese: se o Steve for bem sucedido no seu projecto iGod, quem sabe se eu, finalmente, não serei tocada pelos dois – Steve and God.