Parece que,
em 1987, na ONU, Portugal votou sim e
não à libertação de Mandela, tudo no
mesmo dia.
Singularidades
da política à portuguesa.
Na
sexta-feira passada, o povo de esquerda (eu incluída) afadigou-se nas redes
sociais a dar pancada no Cavaco, porque era ele o primeiro-ministro quando
Portugal votou contra Mandela, ao
lado de Reagan e da Thatcher.
Alguém se lembrou
desta efeméride de há 26 anos e pô-la em circulação.
Foi tal o
sururu que Cavaco teve que vir justificar-se.
Argumentou o
homem que apoiar a luta de libertação com recurso a armas, isso é que não podia
ser!, como se as colónias portuguesas tivessem alcançado a independência com
cravos na botoeira, digo eu.
Contudo,
sobre o assunto, a coisa mais extraordinária que li vinha no Expresso, e dizia:
“os
votos de Portugal na ONU nunca passam pelo gabinete do primeiro-ministro, a
responsabilidade é sempre do ministro dos Negócios Estrangeiros, ouvido o director-geral
de política” do Ministério.” Quem profere tal afirmação é Martins da
Cruz, assessor diplomático de Cavaco à época.
Mas então as
decisões sobre as nossas votações na ONU, parte da nossa política externa,
ficam-se ao nível do director-geral?
Cavaco quando
se justificou nunca disse que não tinha nada que ver com o assunto. Será Martins
da Cruz mentiroso ou foi o jornalista que não percebeu peva? Estou confusa com
isto, muito confusa.
Mas duma
coisa tenho eu a certeza − se alguém quiser pedir desculpa ao Cavaco por
acusações injustas, pois que peça; por mim, não farei tal coisa, pelo menos
antes que ele me peça desculpa a mim por tudo o que não anda a fazer e mais o que tem
andado a fazer.
Além disso,
é absolutamente certo que Portugal votou sim, mas também votou não à libertação
de Mandela, ao lado dos dois maiores energúmenos políticos da época.
Se se tivesse
tirado uma fotografia seria tão memorável como a das Lajes.
Ainda bem
que, dessa vez, o fotógrafo não estava lá.Para vergonha já basta assim.