Concordo com elas, e como até já aqui escrevi sobre "Beatas e cocós", enfiei a carapuça. Por isso ouso ir um pouco mais além no tema e naquilo que, no Facebook, originou as palavras citadas – a carga policial no Chiado.
A cidadania, em meu entender, exerce-se todos os dias, a todas as horas, em qualquer local. É transversal a todos os atos da nossa vida quotidiana.
Tal como a política, está em tudo.
Porém, pede-se no Facebook a identificação do apelidado “Valentão do Chiado”, aquele polícia que, na foto muito divulgada, está a bater na fotojornalista, e entende-se isso como um ato de cidadania – identificá-lo e, na melhor das hipóteses, castigá-lo, na pior talvez linchá-lo à bastonada. Ora, aqui não concordo; não acho que isso seja um ato de cidadania.
Os jovens fotojornalistas que foram para o terreno e foram
agredidos, deviam saber que a polícia de choque tem o nome com ela, e quando
intervém é para limpar o local, está cega, só obedece à ordem que recebeu. São
assim todas as forças militares e paramilitares, sempre o foram. Quando
aparecem, é bom que se fuja, seja-se ou não jornalista, porque ali já não estão
homens – apenas máquinas bestiais treinadas para bater.
Identificar um polícia como alvo a abater, como se ele fosse
causa e símbolo de todos os males da nossa democracia, pode ser um alívio para
a raiva que vamos contendo, mas nada tem de exercício de cidadania.
Faz parte das regras do bom jogo democrático que protestemos
sempre contra a violência policial mas, por aqui, nunca vi uma boa discussão
democrática e cidadã sobre se queremos ter, ou não, um corpo
de intervenção, qual o papel que lhe atribuímos e quais as suas baias, já que o
pagamos.
Pedir a cabeça dum polícia (ainda que sádico) não é
exercício de cidadania, é pura expressão de raiva, talvez mesmo de impotência,
mas não deixa de ter um perigoso cheirinho de apelo à justiça popular.
Não, não vou por aí.