Algures num tempo incerto, tudo se inverte − o senhor C e a
senhora D passam a ser os pais de A ou B.
Profunda alteração, esta, que, muito prosaicamente, se pode resumir
dizendo que os meninos já são adultos e os pais já estão a ficar velhos.
Se isto não tem lá grande piada, certo é que também pode
proporcionar uma segunda e insuspeitada “existência”.
Por exemplo, a mãe do Herman José não teria existência
pública sem o filho; Helena Sacadura Cabral sempre a teve, e continua a ter,
mas ela foi potenciada pela subida à ribalta dos seus dois filhos.
Contudo, para o resto das suas vidas, ambas permanecerão, em
grande medida, as mães do Herman, do Miguel e do Paulo.
Mesmo a um nível isento de exposição mediática, um filho respeitado
e estimado no seu meio, quer pela seriedade e qualidade do trabalho que
desenvolve quer pelo seu carácter, pode transformar o aparecimento da sua mãe
numa espécie de descida à terra de Nossa Senhora da Conceição poisada na nuvem.
Dar-lhe uma “existência” não expectável.
E isso é bom para quê, pode perguntar-se.
Pois, é bom para a alma, seja lá isso o que for.
Verdade, verdadinha, que dispenso o séquito de anjinhos e
querubins que sempre acompanham a imagem da santa, mas lá que eu gosto muito de
descer à terra encarrapitada na nuvem, lá isso gosto. E ponto final.