A célebre frase “O povo é sereno”, proferida por Pinheiro de
Azevedo durante uma manifestação no longínquo PREC, encerrava, ao tempo, uma certa
dose de verdade.
Há quarenta anos, o povo carregava algum fatalismo e
conformismo, sem dúvida, mas geralmente acompanhava-os de sobriedade e dum
saber de “experiência feito”.
Os tempos mudaram, mudaram muito, e até deixou de haver
povo, passando a haver apenas “público”.
Porém, eu gosto desse ancestral termo - povo.
O moderno povo urbano que hoje vemos nos telejornais está
cheio de si, das suas verdades indiscutíveis, das suas razões, e, demasiadas
vezes, duma raiva quase assassina, pronta para o linchamento se houver
oportunidade.
Dúvidas, não tem nunca. É um povo cheio de certezas, aquele
que vai para a porta dos tribunais gritar “assassino” e demais impropérios ao arguido
antes mesmo de qualquer julgamento, e no fim dele também, se o resultado não
for a seu contento.
Arguido de caso mediático é, para este povo urbano e
excitado, fatalmente culpado.
Foi assim com os McCann, com Carlos Cruz e agora com Afonso
Dias, réu no caso do desaparecimento de Rui Pedro.
Este povo assusta.