Quando percebi que Cosmópolis
foi escrita em 2000, antes da queda das torres de Nova Iorque e muito antes
da crise financeira global – dois marcos importantes da contemporaneidade -
impressionou-me a capacidade visionária de Don Delillo sobre a nossa sociedade e
o desastre anunciado.
Não é um livro macio ou afável, antes um livro que incomoda
mas também fascina. A um ritmo alucinante, a escrita leva-nos numa cavalgada
demente por Manhattan, na pele dum jovem milionário que a atravessa dentro duma
limusina.
O retrato quase grotesco do dia de Eric Packer numa cidade
de que a loucura se apossou, fascina e ofende, provoca sorrisos de ironia e
arrepios de medo.
Excesso, poder, ganância, desconstrução e apocalipse social,
tecnologia, individualismo e efemeridade são manejados por DeLillo com enorme
mestria neste livro.
Não posso estar mais de acordo com Salman Rushdie quando ele diz que DeLillo é o
“poeta da nossa desumanização”.
Um livro que se recomenda (muito) para ler, e agora um filme
que estou mortinha por ver.Don DeLillo
Relógio d’Água, 2003