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segunda-feira, novembro 21, 2011

Carta (que ele não vai ler) a Henrique Raposo


Bom dia, Henrique

Já é 2ª feira e ainda não digeri a sua crónica de sábado no Expresso.
Tenho o hábito de o ler, mas é mesmo só hábito, porque raramente concordo consigo. Talvez eu tenha o hábito de discordar de si, mas desta vez você foi longe demais, ofendeu-me a mim e à minha geração.

O Henrique não me lê como eu o leio a si mas, se lesse, saberia que tenho grande apreço e carinho pela geração a que pertence, ao contrário de si que destila ódio pela geração dos seus pais e tios e avós que, curiosamente, muitas vezes refere com carinho. Deve ser só a sua família que tem qualidades; os outros da mesma geração são uns filhos da mãe, pendurados nos vossos descontos e sacrifícios, são “matronas anafadas” que vos roubam a cegonha, o bem-estar e a casinha no centro de Lisboa.

Saberá certamente o Henrique que os seus estimados pais, e todos os da sua geração, não esperaram ter uma casa no centro de Lisboa para o mandar vir, nem esperaram ter todas as condições desejáveis para ter filhos, ou você não estaria cá. Ao contrário, os seus amigos não querem nada com a cegonha antes de ter tudo nos trinques.

O Henrique saberá também, certamente, que a casinha que agora custa 20 euros, quando foi arrendada nos idos de 60 ou 70, custava os olhos da cara e levava grossa fatia do ordenado. Nada de novo, portanto. A habitação sempre foi cara para os jovens.

Não quero com isto defender a lei em vigor, de que, aliás, discordo profundamente, mas o Henrique também saberá que as rendas foram congeladas em Lisboa ainda por Salazar, e que nenhum governo, até hoje, foi capaz de resolver este assunto de maneira justa, razão pela qual tudo vai ficando na mesma.

O Henrique saberá ainda que os governos são eleitos por nós, e calculo que o menino, apesar de jovem, já elegeu vários, pelo que também contribuiu para o “peditório”.

As “matronas anafadas” que pagam rendas baratas usam a lei que os políticos não ousam mudar, mas o Henrique está em óptima idade para entrar na política e ajudar a resolver esta e outras miudezas da política portuguesa. Tem agora um governo a seu jeito e acho que devia tentar. Assim, poderia fazer leis que pusessem as velhas todas debaixo da ponte e acabar de vez com as reformas desses malandros da geração dos seus pais, cambada de parasitas que estão a viver dos seus descontos e a ocupar as casas que lhe são devidas a si e aos seus amigos.

Tenho estado a partir do princípio que o Henrique saberá uma série de coisas elementares mas há uma que me parece que desconhece completamente – chama-se Solidariedade Geracional, que faz com que os seus pais tenham pago a reforma dos seus avós e com que você pague a dos seus pais. Um dia, se não estragarem tudo até lá, os seus filhos pagarão a sua.

Enquanto o Henrique não aprender que tudo nesta vida é política e não conflito geracional, não será um verdadeiro homenzinho.

Mas olhe, eu acho que o menino não é parvo, e por isso, faz-se. Que diabo, apesar de eu os abominar, a democracia também precisa de políticos de direita.