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quinta-feira, maio 08, 2014

Cheiro a bafio












 
 
 
 
 
 
Se o meu pai fosse vivo teria quase 90 anos.
Durante toda a minha meninice, aos domingos, o meu pai pegava no meu irmão e iam os dois ao futebol.
Eu e a minha mãe ficávamos em casa, ou visitávamos a minha avó.
Só me lembro de o meu pai me ter levado ao futebol uma vez − era um jogo de futebol feminino.

Não sei se é o jogo em si que me chateia, ou se o meu inconsciente o rejeita por o associar aos domingos chatos da minha infância; certo é que nunca consigo ver um jogo de futebol inteiro, mesmo que seja da selecção, mesmo que seja de arrancar o coração, e mesmo se sou capaz de reconhecer que um bom jogo de futebol pode ser um espectáculo tão bom com qualquer outro.

O meu pai era, na sua essência, um homem do seu tempo, e no seu tempo as coisas eram assim.

Como se entretanto não tivessem passado algumas vertiginosas décadas da segunda metade do século XX, e mais quase década e meia do século XXI, ontem topei com este texto de José Mourinho, tão mau que até dói. Escreve ele:

 
"Sei que este espaço é para comunicar com os adeptos, mas um de vocês é o meu filho. Quero agradecer-lhe por estar comigo cada segundo de cada jogo, poucos metros atrás de mim, saltando a cada golo, sofrendo com cada momento difícil. Obrigado, miúdo, por seres o meu filho. Sempre que olho para ti, vejo-te, mas também vejo a tua irmã e a tua mãe, ambas em casa a torcer por nós, à espera que cheguemos a casa para sermos o que somos - uma família extraordinária... Como a família azul, apoiando-se uns aos outros"

 
Que cheiro a bafio, credo!

Claro está que a mulher e a filha de Mourinho podem não ter paciência para ver um jogo inteiro, como eu, mas, mesmo que seja esse o caso, o que ele escreve é todo um programa próprio dum homem fora do seu tempo, ao contrário do meu pai.

O que escreveu cheira a passado, à doutrina veiculada pelos textos dos livros de leitura da escola do Estado Novo, aos ensinamentos da Mocidade Portuguesa.

Lido este seu textozito kitsch, e não querendo ser exagerada na adjectivação, fica-me a sensação de que Mourinho, fora do futebol, não passará de um grandessíssimo inconseguimento. 

quinta-feira, dezembro 06, 2012

Coragem, gosto

Coragem intelectual é um bem escasso por aí.
Coragem física, idem.
Mas aprecio as duas, quer nos homens, quer nas mulheres.

Há dias critiquei aqui a “coragem” do fulano que chegou a mandar, num só dia, mais de 100 SMS a um outro que lhe assediou a mulher. Tinha a coragem toda na ponta dos dedos e atrás do telemóvel.

A José Mourinho, pelo contrário, não se pode negar coragem.
Não encontrei o vídeo que vi num noticiário mas encontrei a notícia. Resumindo-a, “o treinador do Real Madrid avisou que ia entrar sozinho em campo antes do dérbi com o Atlético para ser “assobiado à vontade”.

E assim fez. Quarenta minutos antes de o jogo começar, Mourinho ofereceu o “peito às balas” e ali ficou sozinho, especado, ouvindo assobios e aplausos. Entendeu que, se a causa da discórdia é ele, então ele vai aparecer sozinho para que a equipa não sofra os assobios que o têm como destinatário.

Teatral? Talvez, mas todo o espetáculo vive disso também.
 
Porém, se coragem se define como firmeza de ânimo na adversidade, goste-se ou não do estilo (e eu até nem sou fã), não se poderá nunca dizer que este homem não tem tudo en su sitio.