“ O fogo e o livro por vir
Os livros são perigosos:
ateiam-nos fogo. Temíveis: por isso, são atirados ao fogo. Há uma relação
íntima entre o livro, o fogo e as cinzas. Como a consciência de que o livro da nossa vida nos pode queimar. De
que somos livro a ser escrito. Como um mapa aberto à viagem. A fazer-se e a
desfazer-se. De um monte de palavras ou imagens, dessa matéria, formar-se-ão
outros livros possíveis, ainda por vir. Ou a reler. Desconhecidos. A biblioteca
interminável de Babel. Tarefas infinitas,
chamou-lhes Husserl, porque não se limitam ao tempo de vida de um indivíduo e
são criação comunitária. O livro, a arte, o pensamento, a ciência. Vêm de longe
e dirigem-se para longe. Ao virar a página, no infinito obscuro da origem, dá-se
uma explosão de luz que é começo.”
Notas: Texto que acompanha o núcleo "o fogo e o livro por vir" da
exposição Tarefas Infinitas na
galeria de exposições temporárias do Museu C. Gulbenkian
Imagem do catálogo: António Areal (1928-1978) Confissão tenebrosa: primeira parte da autobiografia agora em edição
ilustrada pelo autor, 1971
Gostei muito do texto.
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