quinta-feira, janeiro 13, 2011

"Uma Campanha Alegre"

As Farpas
As Farpas são crónicas publicadas mensalmente da autoria de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão A parte escrita por Eça foi publicada em 1890, em dois volumes com o título Uma Campanha Alegre.
As Farpas são uma admirável caricatura da sociedade da época. Altamente críticos e irónicos, estes artigos satirizam, com muito humor à mistura, a imprensa e o jornalismo partidário ou banal;
"Eça não se limita, todavia, a galhofar. As suas Farpas constituem um sistemático e quase que completo curso de sociologia do Portugal da Regeneração, observado de alto a baixo, nas câmaras e nas ruas, nos mercados e nas prisões, nos gabinetes da administração e nas praias onde labutam e naufragam pescadores, nas salas domésticas onde se entendiam pescadores e tomam chá com torradas as famílias, nas igrejas onde rezam beatas ou se realizam eleições, nos teatros onde se representam peças pífias e mal traduzidas, nas redacções onde se panteia em péssimo jornalismo, o que sucede tanto em matéria de política como em casos mais triviais do dia-a-dia do país."*
*In Dicionário de Eça de Queirós, pág. 264.
Excerto de um texto retirado daqui.
É muita pena que Eça já não esteja vivo; talvez ele publicasse algumas crónicas que nos fizessem sorrir sobre esta muito triste campanha que estamos a presenciar - sem rasgos, sem brilho, sem propostas exequíveis para um Presidente da República.
Uma criatura muito madura, que já viveu 36 anos de democracia e alguns mais de ditadura, olha para todos os candidatos e pensa.
·         Não gosto de homens que se julgam únicos e insubstituíveis, indispensáveis para salvar o país, como se não carregassem nas costas 15 anos de grande poder que nos conduziu até aqui.
·         Não gosto de homens cuja mensagem essencial ainda não percebi, mas que estão sempre a falar de pátria e patriotismo.
·         Não gosto de homens demagogos e populistas (e monárquicos) que trazem para a campanha a sua excelente actividade cívica (o que não tem mal) para ser usada contra a actividade política (o que já tem mal, porque a democracia precisa de políticos e demonizá-los é muito perigoso).
·         Não gosto de homens zangados com o mundo e que têm sempre o sobrolho franzido. Assustam-me.
Pode dizer-se, com verdade, que há muito por onde escolher mas é como se fossemos a um mercado cheio de peixe pescado nas águas do Golfo do México – não apetece comprar nada.
Por mim, estou à nora com a “refeição” e tenho a certeza que o peixe que comer me vai cair mal. Mas, mesmo assim, vou comer!

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