“Certa noite,
ao voltar a casa, muito embriagado, de uma de minhas andanças pela cidade, tive
a impressão de que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, assustado
ante a minha violência, me feriu a mão, levemente, com os dentes. Uma fúria
demoníaca apoderou-se, instantaneamente, de mim. Já não sabia mais o que estava
fazendo. Dir-se-ia que, súbito, minha alma abandonara o corpo, e uma
perversidade mais do que diabólica, causada pela genebra, fez vibrar todas as
fibras de meu ser. Tirei do bolso um
canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pela garganta e, friamente, arranquei
de sua órbita um dos olhos!”
Este é um pequeno excerto do conto “O Gato Preto” de Edgar Allan Poe que
retirei daqui.
Lembrei-me dele, e doutros, quando no sábado li, na
Revista do Expresso, uma entrevista com a filha mais velha de Paula Rego,
Caroline Willing, em que ela afirma:
“A minha mãe
lia-me livros de Edgar Allan Poe como histórias para dormir”.
Foi assim que, no meio duma inofensiva
leitura de fim-de-semana, e subitamente, um frémito de horror e pasmo me
percorreu o ser.
E interroguei-me:
Nunca, nunquinha!
Porcaria de mãe que me saíste!
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