Um dos
grandes fascínios que a literatura exerce em mim é poder encontrar-me,
inesperadamente, num qualquer recanto de página e, nesse momento, sentir que
não estou sozinha, ninguém está sozinho, por mais esdrúxula que possa
parecer a identificação encontrada.
Comecei a ler “Para onde vão os guarda-chuvas” de Afonso Cruz (Editora Objectiva, 2013) e, logo nas epígrafes, lá estou:
De certeza que já te
cruzaste comigo mil vezes, mas o teu olhar nunca se fixou em mim. Admiras-te?
Sou assim: não atraio a atenção. Sou um camaleão humano ou algo parecido.
Dissolvo-me no que me rodeia, faço parte da paisagem: não tenho nada em que os
olhos se prendam. Tudo em mim é de tal forma comum que as pessoas olham e não
me vêem.
(Testamento de um poeta judeu
assassinado, Elie Wiesel)
Os que me
são próximos sabem que sinto assim.
Dantes,
talvez porque ainda quisesse deixar uma marca no mundo, havia decepção. Agora,
uma bênção.
Imagem: Girl at
mirror, 1954 – Capa de The Saturday
Evening Post, 6 Março de 1954, de Norman Rockwell
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