Li no
Público que o arquivo de Siza Vieira pode vir a acabar no Canadá, mais
precisamente no Centre Canadien
d’Architecture.
Felizmente é
tempo de férias, e isso poupa-nos o enfado de ler um milhão de irados comentários,
todos contra os habituais inconseguimentos da pátria.
Por mim,
acho bem. Há pessoas que não cabem onde nasceram, seja qual for o sítio em que tenham
nascido. O mundo tomou-as como suas, e não vejo nenhum mal em que seja o mundo
a tomar conta do seu legado.
Não sou uma
incondicional apreciadora do trabalho do Siza; amo Serralves ou o Pavilhão de
Portugal, não gosto, nunca gostei do Bairro da Malagueira em Évora.
Mas foi
precisamente em Évora, e por causa da Malagueira, mesmo no seu início, que
conheci Siza Vieira, ao tempo um arquitecto desconhecido da maioria dos
portugueses (eu incluída).
Um dia, nesse
final da década de 1970, Siza foi a minha casa e, observando-me com o meu
primeiro filho recém-nascido ao colo, perguntou mansamente na sua voz sempre
enrolada no fumo:
- O que
sentiu a primeira vez que olhou para ele?
Lembro-me
que não respondi imediatamente. Não é suposto que nos façam perguntas destas. Mas
vasculhei bem no meio da consciência e acabei encontrando a resposta:
- Respeito, disse.
Siza meneou
um pouco a cabeça e nada disse; apenas deu mostras de ter satisfeito uma
curiosidade sua.
Se aquele
homem, quase um estranho, não tivesse ousado fazer-me uma tal pergunta eu, se
calhar, nunca descobriria que tinha divergido do cânone que mandava que
respondesse:
- Amor!
E foi assim
que, para sempre, fiquei a dever a Álvaro Siza Vieira, arquitecto de profissão,
uma das perguntas mais interessantes e esclarecedoras com que fui confrontada na
vida.
Penso que
nunca mais nos encontrámos.
Eh, eh...vivo num edifício feito por ele, a minha escola :)
ResponderEliminarEsta mania das fronteiras muito mal nos tem feito, os homens grandes não têm fronteiras.
~CC~