“Da
orquestra, brotava, precisamente agora, o enigmático Leitmotiv: “Não perguntarás.” E parecia-me que, naquela mística
sucessão de sons, naquelas duas palavras, eu decifrava a súbita revelação de
uma sabedoria oculta e muito antiga. “Não perguntarás.” Não procures o fundo
das coisas, ou acabarás por te afundar, também. Não busques a verdade: não a
encontrarás e perder-te-ás a ti mesmo. “Não perguntarás.” A porção de verdade
que te é útil é-te dada gratuitamente, e chega-te misturada com erro e mentira,
mas é para teu bem, uma vez que, em estado puro, te queimaria as entranhas. Não
tentes purgar a alma de mentiras, porque com elas, irão muitas outras coisas em
que não pensaste, e ficarás vazio de ti mesmo, e de tudo o que tem valor para
ti. “Não perguntarás.”
“O Doutor Glas”
Hjalmar
Söderberg (2/7/1869, Estocolmo – 14/10/1941 Copenhaga)Ed. Relógio D’Água
curioso. tb comprei, e li, e não me tocou.
ResponderEliminarEu gostei. Achei-o um livro perturbante, sobretudo pela maneira fria (nórdica) e desprendida como aborda o direito (??) de decidir sobre a vida e a morte de outro, enquanto, ao mesmo homem, se colocam tantas questões morais sobre o aborto, por exemplo.
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