Onde é que
você estava na noite de 28 de Fevereiro de 1969?
Eu dormia na
minha cama de adolescente que, por acaso, estava encostada à parede. Acordei
com a parede a abanar mesmo junto à minha cabeça.
Quando
percebi o que se passava, e durante aqueles segundos que sempre parecem horas, comecei
por sentir a necessidade de fazer alguma coisa, logo depois uma urgência de
fazer alguma coisa mas, faltando a electricidade, o corpo acabou por ficar
quieto, esperando que a parede lhe caísse em cima, ainda que com uma remota esperança
de que tal não viesse a acontecer.
Não
aconteceu, mas nessa noite perdi um pouco a inocência, porque percebi a minha
vulnerabilidade e a dos que, ao tempo, eram todo o meu suporte de vida.
E a que
propósito vem isto?
Vem porque,
frequentemente, dou comigo a encontrar semelhanças entre essa já longínqua
noite e esta noite em que sinto que entrei há cerca de três anos.
Desta vez
não estava a dormir, e cedo comecei a ouvir o ronco da besta.
Cedo surgiu,
também, a necessidade de fazer alguma coisa, que se foi transformando, de novo,
num sentimento de urgência – era preciso pará-los antes que a devastação fosse irreparável.
Com o tempo,
percebi que não havia ninguém para travar o desastre, e voltei a ficar quieta, assistindo,
todos os dias, à destruição da minha “casa”, pedra por pedra, meticulosamente.
Ensino público,
Serviço Nacional de Saúde, Segurança Social e apoios sociais, Ciência, tudo vai
caindo sob o efeito dum sismo político de magnitude pornográfica.
Tal como na
noite do sismo de 1969, acabei simplesmente à espera que passe, desejando que
dos destroços alguma coisa ainda se possa salvar. Sendo que nada é certo – nem que
acabe, nem que haja salvados.
Certa, apenas
a enorme vulnerabilidade do meu país às mãos dos mercados sem rosto, dos
políticos sem ética, e dum povo sem ânimo – “o melhor povo do mundo”
Se isto não
é um sismo…
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