Esta é a
crónica que Miguel Esteves Cardoso assina hoje no Público.
A meu ver, a
escrita está cada vez mais pobre, quando não com português “macarrónico” – efeito
duma escrita que se faz da mão para a boca − mas a história é boa e bem
adequada à época.-------------------
Um mês depois apareceu na loja um cliente antigo, dono de um
restaurante, a quem tinha sido dado o privilégio de levar o que precisava e
pagar só três meses depois, depois de ter recebido as contas das pessoas que lá
iam almoçar e jantar. Tratava-se de um empréstimo generoso: só pagava o que
vendia depois de ter vendido, por quatro vezes o custo, aquilo que tinha
comprado.
O dono do restaurante lucrou tanto com o roubo como com o
crédito. Sendo um indivíduo ladrão mas honrado, voltou à loja para confessar
que tinha roubado o chá e com o dinheiro, o valor exato do que tinha roubado. A
dona da loja começou a chorar.
Nunca tinha pensado que aquela pessoa, tão amiga (conhecia e
simpatizava com todas as dificuldades da família dela), era capaz de roubá-la.
Recusou o pagamento. E disse-lhe: “O senhor roubou a minha alma e a minha
confiança em si. E isso não pode ser pago em dinheiro. Eu perdi um cliente de
quem gostava. Não há dinheiro que pague o que eu perdi”.
O marido e sócio da senhora, quando soube da recusa dela,
compreendeu-a mas disse: “Tu és muito dura”.
Mas não foi dura: foi justa. E foi leal à amizade que o
cliente quebrou. A confiança é um tesouro. E os tesouros roubados deixam de
sê-lo.
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