Muito se tem
escrito ultimamente sobre Hannah Arendt e o filme, agora em exibição, que leva
o seu nome.
Nesses
escritos, encontra-se quem saiba muito sobre ela, sobre a sua obra e até sobre
cinema. Encontra-se também quem escreva apoiado na mais profunda ignorância.
Deixando a
sua filosofia para quem a estuda, confesso que há anos que a mulher/filósofa
Hannah Arendt desperta também o meu interesse e curiosidade.
A paixão de
Hannah Arendt pelo seu professor Martin Heidegger sempre se me afigurou tão
poderosa quanto pouco entendível (como, afinal, é próprio de tantas paixões
poderosas).
No livro “Hannah Arendt e Martin Heidegger” de
Elzbieta Ettinger, encontrei uma mulher inteligente, jovem judia na
Alemanha de Hitler, que se apaixona pelo professor e homem brilhante, mas de personalidade pouco recomendável,
que se serviu dela inúmeras vezes.
Hannah não
via isso, ou recusava ver. A sua paixão durou toda a vida.
No filme,
numa brevíssima cena, o assunto é aflorado, e Hannah responde, secamente,
enquanto puxa mais uma fumaça do seu eterno cigarro, qualquer coisa do tipo –
“há coisas maiores que qualquer pessoa”.
Gostei do filme.
Gostei da clareza com que o pensamento de Hannah é apresentado, e de confirmar,
mais uma vez, que, por mais claro que seja o que dizemos, cada um dos nossos
receptores entende sempre, e apenas, aquilo que está, à partida, predisposto
para entender.
No filme,
apenas me desagradou a cor e o ambiente sempre soturno; há nele momentos
verdadeiramente luminosos que mereciam ser fisicamente acompanhados duma outra
luz.
Mas isso,
são opções estéticas.
Sobre o
livro:
“Hannah Arendt e Martin Heidegger”Elzbieta Ettinger
Ed: Relógio d’Água, 2009
Estou aqui à espera que chegue ao cinema da minha cidade!
ResponderEliminar~CC~
Não deixei aqui um comentário? Bem, se calhar cometi algum erro no processo.
ResponderEliminarNão Carlos, não deixou. Mas tenho pena :-)
ResponderEliminarEu tinha comentado -- ou melhor: tinha tentado comentar -- que também há anos que Hannah Arendt desperta o meu interesse, e que gostei do filme e do livro referidos no seu post.
ResponderEliminarNo que concerne ao filme, a opção estética não me desagradou, mas, claro, é uma questão de gosto pessoal. Considero que o filme retrata na perfeição o «selbstdenken» que Hannah Arendt menciona na resposta ao ataque de Gershom Scholem no auge da polémica suscitada pela publicação de «Eichmann in Jerusalem»: «What confuses you is that my arguments and my approach are different from what you are used to; in other words, the trouble is that I am independent. By this I mean, on the one hand, that I do not belong to any organization and always speak only for myself, and on the other hand, that I have great confidence in Lessing’s selbstdenken, for which, I think, no ideology, no public opinion and no ‘convictions’ can ever be a substitute» (Hannah Arendt, The Jewish Writings. Nova Iorque: Schocken Books, 2007).
Por fim, subscrevo na íntegra as palavras da Maria de Jesus: «cada um dos nossos receptores entende sempre, e apenas, aquilo que está, à partida, predisposto para entender».
E pensar pela própria cabeça continua a ter custos muito elevados. Pensando melhor, atrevo-me a dizer que tem custos cada vez mais elevados.
EliminarAh, sim, com certeza.
EliminarPor isso se inventaram "estas escolas" modernas onde o pensar não é ensinado. O saber pensar ensina-se, não é?
ResponderEliminar