No Expresso
online de ontem, Daniel Oliveira escreve sobre Álvaro Cunhal e a comemoração do
seu centenário, dando como título ao artigo “O altar para o Santo Álvaro”. Vale
a pena ler aqui.
Refere ele,
a dado passo, que o PCP “vive com uma
confrangedora e talvez inédita falta de quadros intelectuais… sem os quais um
partido comunista dificilmente cumpre a sua função vanguardista ou pode
bater-se por uma hegemonia ideológica.”
É
absolutamente verdade. Por isso temos hoje um PCP dirigido por Jerónimo de
Sousa, com uma acção política que chega a ser patética.
Ora, essa
manifesta falta de quadros intelectuais, germinou e consolidou-se durante a
longa liderança de Cunhal.
Se logo após
o 25 de Abril os intelectuais foram tolerados, até porque muitos tinham
consumido os ossos na cadeia, aos poucos o PCP foi criando as condições para
que se afastassem pelo seu pé.
Aquilo era
um partido da classe operária, diziam, onde os intelectuais podiam caber, diziam
também, mas apenas se aceitassem, sem estrilho nem interrogações, as
orientações que o intelectual Cunhar escolhia para a dita classe operária, digo
eu.
É
absolutamente seguro que, depois de mortos, geralmente somos todos bons e, como
escreve DO, “Cunhal passou a ser, da direita à esquerda, consensual”. Nada de
novo, portanto. Está morto, está morto. Não entra na equação da nossa vida.
Porém,
preocupante é que Jerónimo de Sousa seja também consensual.
Que
simpático, que afável, que cordato, diz a direita em coro.Eu, no lugar dele, ficava preocupada com tanta afectuosa unanimidade, mas ele, e o seu partido, não só não se importam como até parece que nasceram para agrada.
Como se
Jerónimo tivesse tomado para si o papel de Tareco
da direita, o gatinho que parece que vai estragar as cortinas mas, afinal,
deixa-se apanhar e afagar. É um querido.
A nossa
desgraça não consiste só em termos juntado num mesmo tempo histórico Cavaco,
Passos, Portas e Seguro.
Geralmente
não referimos Jerónimo de Sousa, mas ele não pode, nem deve, ficar fora deste
desastrado ramalhete.
Sem negar as
enormes qualidades de Álvaro Cunhal, é bom não esquecer que Jerónimo de Sousa e
este PCP são herdeiros, e “filhos” legítimos, da sua liderança.
Na mouche "Aquilo era um partido da classe operária, diziam, onde os intelectuais podiam caber, diziam também, mas apenas se aceitassem, sem estrilho nem interrogações, as orientações que o intelectual Cunhar escolhia para a dita classe operária, digo eu. "! Que saudades de a ler! :)
ResponderEliminarBom vê-la por aqui, Lili :)
EliminarO "problema" complementar é que no BE não há operários!
ResponderEliminarO que não é um problema menor...
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