sexta-feira, julho 05, 2013

E é isso


Numa dependência dum banco português, bem no centro duma capital da Europa, as coisas não estão a correr bem – demasiados clientes para tão poucos funcionários activos.
 
A certa altura, um cliente no princípio da meia-idade insurge-se com a intolerável situação; fala sozinho, primeiro, e pergunta, depois, se os outros não estão de acordo. Uma mulher que já passou a meia-idade e que deve até ter passado uma ou mais fronteiras no tempo em que as havia mas que ainda tem agarrada à pele a rudeza do granito beirão responde a meia-voz:
 
- A gente está de acordo, mas toda a gente tem medo e cala-se.
Intrometida que sou, mesmo sentindo que não sou dali, pergunto:
- Medo de quê?
 
A resposta vem sob a forma dum breve encolher de ombros de resignação martirizada.
 
Quarenta anos de democracia, um quarto de século de integração europeia e meio século de emigração não foram suficientes para desvanecer em nós este sentimento que nos domina, tolhe e diminui – o medo.
 
Medo de tudo e de nada, com e sem razão, medo de existir, afinal, como dizia o filósofo.
 
É em grande medida graças a ele, a este medo atávico, que ainda hoje os políticos nos podem tourear e bandarilhar, com a certeza de que ficaremos sentados no sofá e diante da televisão, vendo-os entrar e sair, pôr e dispor como lhes apraz, decidindo das suas vidas mas sempre indiferentes à nossa.
 
Haja o que houver, não nos moveremos, porque “a gente tem medo e cala-se”.

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