Numa
dependência dum banco português, bem no centro duma capital da Europa, as
coisas não estão a correr bem – demasiados clientes para tão poucos
funcionários activos.
A certa
altura, um cliente no princípio da meia-idade insurge-se com a intolerável
situação; fala sozinho, primeiro, e pergunta, depois, se os outros não estão de
acordo. Uma mulher que já passou a meia-idade e que deve até ter passado uma ou
mais fronteiras no tempo em que as havia mas que ainda tem agarrada à pele a
rudeza do granito beirão responde a meia-voz:
- A gente
está de acordo, mas toda a gente tem medo e cala-se.
Intrometida
que sou, mesmo sentindo que não sou dali, pergunto:
- Medo de
quê?
A resposta
vem sob a forma dum breve encolher de ombros de resignação martirizada.
Quarenta
anos de democracia, um quarto de século de integração europeia e meio século de
emigração não foram suficientes para desvanecer em nós este sentimento que nos
domina, tolhe e diminui – o medo.
Medo de tudo
e de nada, com e sem razão, medo de existir, afinal, como dizia o filósofo.
É em grande
medida graças a ele, a este medo atávico, que ainda hoje os políticos nos podem
tourear e bandarilhar, com a certeza de que ficaremos sentados no sofá e diante
da televisão, vendo-os entrar e sair, pôr e dispor como lhes apraz, decidindo
das suas vidas mas sempre indiferentes à nossa.
Haja o que
houver, não nos moveremos, porque “a
gente tem medo e cala-se”.
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