Entre os
meus e os dos meus filhos vivi umas boas dezenas de dias de exames. Sei como
são dias especiais.
Porém, de
todos esses exames, o que sempre recordo com um sorriso, é o meu exame de admissão
ao Liceu que era, à época, vivido como um importantíssimo dia nas nossas vidas.
As provas
faziam-se no próprio Liceu e, em boa verdade, não posso dizer que me lembre de tudo,
mas lembro-me, por exemplo, que a minha mãe me vestiu e calçou com esmero para
aquela solenidade.
A minha mais
viva lembrança vai para a prova de ditado, sempre muito temida porque não se
podia dar mais que um ou dois erros, sob pena de se chumbar e de se ficar logo
com a carreira estragada; um pouco como o Crato quer fazer agora – és burro? vais
para canalizador já (modelo alemão, e modelo jurássico do próprio Crato).
A professora
do Liceu que estava a fazer as provas na minha sala era, de certeza, uma mulher
mais nova do que eu sou hoje, mas guardo dela uma imagem de senhora de idade, com
pernas grossas em cima duns saltos altos, e cabelo penteado ao estilo daquilo
que se chamava “banana”.
Era muito
cuidadosa e ditava pausadamente, com ritmo lento e repetindo bastantes vezes.
O diabo é
que a senhora era “do Norte”, e estava ali, no meio do meu Alentejo, a fazer-me
o ditado com a sua “pronúncia do Norte”.
Lá para meio
do texto, a senhora disse “ulhando o
campo”. Eu nunca tinha ouvido tal palavra, achei que seria “olhando o
campo” mas ela insistia tanto, disse tantas vezes a palavra e com tanto cuidado
que eu, depois de inúmeras hesitações, acabei por me decidir e escrevi mesmo
“ulhando”.
Pois se ela
era a senhora professora e já tinha pronunciado a palavra algumas dez vezes, eu
é que devia estar com falha de preparação.
Não estava, mas
como esse foi o meu único erro, safei-me.
Nota: era
bom que alguém explicasse aos alunos que hoje não puderam fazer exame que foi
por uma boa causa, e que há questões de cidadania que não têm que ver com o “safar-se”
de cada um.
Mas talvez seja também boa ideia que alguém lhes explique o que é cidadania, por oposição a umbigo...
ResponderEliminarRute
Será que no 12º ano ainda não sabem isso? Se calhar, não. É coisa que nunca convém ao poder e há muitos pais que também não sabem nem querem saber. É o que há!
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