“ Não é simples classificar o trabalho que
Gonçalo Barreiros tem vindo a desenvolver sensivelmente desde 2003, ano em que
iniciou o seu percurso público. Talvez a característica mais determinante na
sua prática seja a tendência para tornar o espaço expositivo como um palco e
para fazer das suas peças agentes de acções perturbadoras, sarcásticas, cómicas
ou exasperantes.”
Isto
escreveu o curador Bruno Marchand no catálogo da exposição e, se ele o diz, quem
sou eu para o desdizer.
Mas, por
acaso, também acho que não é simples classificar este trabalho, como não é simples
classificar nenhum trabalho no campo das artes visuais hoje em dia.
Porém, nesta
exposição há frescura, surpresa e ironia.
Todo o
trabalho exposto remete para nosso imaginário da Banda Desenhada, sugerindo-o
apenas, quer com peças que evocam o gesto de arremessar, quer com a linha da
paisagem, quer com os balões de fala e a prancha da Banda Desenhada
absolutamente em branco.
Neste último
caso, que corresponde à parte final da exposição, o artista parece querer
perguntar-nos se somos dos que acreditamos que a arte deve comunicar alguma
coisa, e deixa-nos entregues à nossa sorte perante molduras que “nada
enquadram, nada devolvem, que não respondem”.
Depois de
séculos a acreditar que sim, que a arte deve comunicar, não se muda facilmente.
Prova bem
divertida disso mesmo foi ouvir o comentário da jovem mulher que estava perto de
mim no dia da inauguração (1 de Março, véspera da manifestação). Dizia ela para
os seus companheiros: ali naquela prancha, e com uma parede tão branquinha
apetece-me mesmo escrever “que se lixe a troika”.
Estávamos,
pois, e como também se diz no catálogo, num “território fértil para a subjetividade”,
que é o território por excelência da Arte Contemporânea.
Vale a pena
ir ver e “experienciar”. A entrada é livre.
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