Foi
assim quando li que os taliban estão a impedir (a tiro) a vacinação contra a
poliomielite de 240 000 crianças no Paquistão.
Porém,
das notícias recentes, a mais nauseante, a que dá volta ao estômago pela
barbaridade do acto, foi a da violação e posterior morte da jovem indiana cujo
nome não foi revelado (na Índia, pelos vistos, uma mulher não tem identidade
própria nem depois de morta).
Habituados
que estamos a saber que, numa grande parte do mundo, nascer mulher é uma
maldição e, sendo-o, ousar lutar por direitos básicos é um acto de coragem com
consequente perigo de vida, mesmo assim, a ferocidade do que aconteceu naquele
autocarro não pode ser ignorada por se passar longe, ou branqueada em nome duma
“cultura”.
Daí
que a solidariedade com as manifestações de milhares de mulheres indianas que
reclamam, tão só, segurança para andar na rua, seja um mero imperativo moral.
Porém,
os apóstolos do regresso às trevas estão por todo o lado, como se constata num
artigo de Naomi Wolf, no Público, em que a autora escreve que em Itália está a
haver um debate sobre “se o vestuário e o comportamento das mulheres encorajam
a violação” e “até mesmo na Suécia, os violadores que conhecem as mulheres que
atacam não são processados, porque as vítimas não são vistas como “meninas
bem-comportadas”.
Cuidemo-nos,
pois. Cuidemos deste legado das nossas avós, porque os direitos que temos hoje
não nos foram dados, antes foram conquistados a pulso, − o poder (aqui
congregado nos homens), mas, de facto, qualquer poder, nunca dá nada, apenas se
conforma e cede.
O
que temos hoje pode desaparecer a qualquer momento; como o último ano português
se encarregou de nos mostra muito claramente, não há direitos adquiridos.
Sobretudo para quem, a cada momento, for o elo mais fraco.
Ser-se mulher é uma luta constante... por mais que digam que as mentalidades mudaram. A notícia da menina indiana dá-me completamente a volta ao estômago e pelo que percebi apenas teve mais atenção do que outras raparigas que também sofreram violações em transportes públicos. Tenho um vizinho indiano muçulmano e ele comentou esta notícia dizendo "ainda acham esquisito que os meus familiares não deixem sair uma mulher da família à rua sem um acompanhante masculino?" .Pois, assim sendo já não acho.
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