quinta-feira, janeiro 03, 2013

Sair a uivar

Fui ver o filme “Amor” no 1ºdia do ano.
Tinha saudades do Trintignant, e o filme está a ser muito aplaudido.

Devia ter ficado com ciática dez minutos antes de sair de casa.

Resumindo, pode dizer-se que o filme é bom, mas também o achei voyeur e às vezes sádico.
O realizador mete-se (nos) em casa dum casal de idosos (donde não mais saímos) e faz-nos assistir ao colapso dela e à sua lenta perda de capacidades, humanidade e dignidade; simultaneamente, Georges passa de marido a devotado cuidador.

Uma história de todos os dias, multiplicada por milhões, fruto da longevidade característica da época contemporânea.
Ouso dizer que o filme de Haneke é neo-realista, o que não é aqui um elogio.
Sim, eu já vi aquilo, e bem próximo, não preciso que me expliquem, nem que mo mostrem, nem que me aticem um medo que, hoje, é de todos.

Por isso, quando saí, só me apetecia uivar.
 
Uivar curto e longo, agudo e grave, angustiado e enfurecido.
Um uivo de tristeza (pela morte) de terror (pelo futuro), de raiva (pelo presente), de dor (pela humanidade), de irritação (com quem se apropria da indignidade da velhice e ainda consegue fazer disso uma obra de arte).
Não invento − eu só queria uivar. E ainda quero.


1 comentário:

  1. O filme não é agradável, é mesmo doloroso!
    Mas um filme capaz de a pôr a uivar, temos que reconhecer que é poderoso!

    ResponderEliminar