Num tempo de cultura do corpo e do saudável, muitos acharam que talvez fosse uma boa ideia porque todos sabemos que aquilo não é a comida mais recomendável do mundo.
A mim pareceu-me, vagamente, que era uma ideia de alguém que vê o país a partir dos corredores do Hospital da Luz, ou da Cruz Vermelha, ou da Cuf e que lhe renderia alguns minutos de exposição televisiva, mas não seria uma ideia bem pensada e aprofundada por alguém que representa uma classe profissional que conhece, talvez como nenhuma outra, as fragilidades do país que habita.
Chegou-me agora às mãos um livrinho intitulado “Desigualdades em Portugal, problemas e propostas” (Edições 70+Le Monde diplomatique, edição portuguesa), em que Isabel do Carmo, conhecida militante antifascista e hoje Diretora do Serviço de Endocrinologia do Hospital de Santa Maria, escreve:
Os portugueses têm de apertar o cinto…trata-se apenas de uma metáfora, porque de facto deveríamos dizer “os portugueses vão ter de alargar o cinto”.
É entre as classes mais pobres que a obesidade aumenta.
Quando os salários descem
O cliente vai procurar aquilo que lhe possa trazer mais calorias, que seja mais saciante, por menos dinheiro. E o que preenche mais essas duas qualidades são as gorduras, os doces e o álcool. As fontes de proteínas são mais caras, como são caros os alimentos ricos em vitaminas e sais minerais.
Parece simples de entender – ficar saciado por poucos euros é o objetivo de quem é pobre, logo, quanto mais pobres, mais obesos.
O problema é que as verdades simples não dão direito a aparecer nos telejornais.
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