Aqui bem perto, o Mediterrâneo, geralmente tão aprazível e carregado de história, transformou-se num mar de morte, indiferença e medo.
Pessoas que fogem da Líbia e duma guerra apadrinhada pela União Europeia, bem como os pobres da África subsariana que fogem da fome, morrem aos milhares nas águas do Mediterrâneo na tentativa vã de chegarem à Europa. Esta, tolhida pelo medo e egoísmos vários, preocupada apenas com o processo eleitoral que se segue, fecha a porta e atira a chave ao mar.
Nós, cidadãos europeus, aconchegados na nossa indiferença, deixamos que morram.
Os países da Europa do sul têm fortes tradições de emigração – portugueses, espanhóis, e italianos estão espalhados pelo mundo e sabem, com um saber de experiência todo feito, que ninguém emigra por gosto, apenas por desespero.
Não se trata de deixar entrar milhões a quem também não poderíamos dar vida digna por cá; trata-se apenas de encontrar forma política e material de ajudar.
Porém, à luta corajosa destes homens e mulheres por uma vida mais digna, ou apenas pela sobrevivência, respondemos com aquilo em que nos tornámos bons - arrogância e indiferença.
Com tais traços de caráter, a Europa/fortaleza vai secar tanto que, quando morrer, já será múmia. Nem sei se não o será já; pelo menos coração já não tem.
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