A crónica de Luís Filipe Borges no Sol online de 9 de Maio intitula-se Dulinesca, tal como o livro de Enrique Vila-Matas que também eu ando a ler.
Foi o título que me chamou a atenção. A certa altura, o cronista faz algumas piadas sobre as razões porque não acompanhou a transmissão televisiva do casamento real britânico.
As piadas não são nem de bom gosto nem verdadeiramente têm piada; prendem-se com a urgência do corte de unhas dos pés, de limpar a caixa do gato ou de contar carros encarnados. Quanto ao humor, estamos conversados.
Acrescenta, de seguida, que o mundo deve estar louco para tantos milhões ficarem a ver aquilo e diz “Somos, definitivamente, uma sociedade anestesiada por décadas de futilidade e entretém vazio.”
É verdade, mas não se aplica aqui.
Sempre me lembro de, quando era jovem, todas as mulheres da vizinhança irem para o adro da igreja para ver a noiva (e o resto, claro), quando se casava alguém que conheciam. Muitas entravam na igreja e, mesmo ficando ao fundo, assistiam a toda a cerimónia e festejavam a saída dos noivos como os convidados.
A realidade que permanece até hoje é que o povo sempre gostou de festa, pompa e ostentação de riqueza.
Porque pensará Luís Filipe Borges que, por exemplo, a Igreja Católica mantém a sua liturgia quase inalterada em 2000 anos?
Simplesmente porque o rito, a grandeza, o cerimonial, a pompa e circunstância, sempre atraíram e fascinaram. E assim continua, malgrado alguns jovens ainda não terem percebido isso e acharem que desdenhar dos gostos simples de gente simples é cool.
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