Sejamos claros – não sabemos, de facto, se é culpado do crime de que é acusado.
Mas sejamos também lógicos – não é a primeira vez que sofre esta acusação; é fumo a mais para não haver fogo nenhum. No caso de ser culpado, pergunta-se: o que leva um homem com o seu poder e estatuto a comportar-se como um marginal, deitando a perder o seu nome, família e futuro profissional?
Não me parece que haja nele apenas um sentimento de impunidade trazido pelo poder; ele sabe que o mundo, e sobretudo os EUA, hoje não fecha os olhos a estas situações (é só ver o caso de Roman Polanski), o que, diga-se, não desculpa o modo absolutamente repulsivo como se tratam por lá os presos, roubando-lhes toda a dignidade mesmo antes de serem julgados, como se todos fossem assassinos prontos para mais um acto tresloucado.
Neste caso como noutros, acredito, sim, numa distorção da personalidade que empurra constantemente para o abismo, retirando satisfação do perigo, da própria violação e do ilícito.
Porém, se o violador comum não tem grandes possibilidades de perceber a urgência de tratar o seu distúrbio, o mesmo não se passará, certamente, com Dominique Strauss-Kahn.
Homem do mundo, inteligente, já muito maduro, com meios financeiros, se não se tratou foi porque não quis. Salvaguardando sempre a possibilidade de estar, de facto, inocente.
Sérgio Lavos escrevia ontem no Arrastão: “o puritanismo hipócrita exulta”. É pena que não perceba que não se trata da vida íntima de cada um, como no caso Clinton, e com a qual nada temos. A existir culpa, trata-se de crime, e dos piores, do ponto de vista feminino. É uma coisa que não deve passar despercebida a um homem de esquerda.
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