Absorvidos pela vidinha, pela crise, pelos juros, pelo vem/não vem do FMI , pelas soberbas tiradas do presidente Cavaco e ainda pela cultura do eu, do ego e etc. e tal, senhores da nossa magna individualidade, vale a pena ler isto, porque é também para nos pôr os pontos nos ii que serve a literatura.
Os seres humanos são tangíveis. São dotados de corpo, e, como esses corpos sentem dor e padecem de doenças e terminam na morte, a vida humana não sofreu nem a mais ínfima alteração desde os primórdios da Humanidade.
…
Os factos da vida são constantes. Uma pessoa vive e depois morre. Nasce do corpo duma mulher, e, se conseguir sobreviver ao nascimento, a mãe terá de a alimentar e cuidar dela a fim de assegurar a sua sobrevivência, e tudo o que acontece a uma pessoa desde o momento do seu nascimento até ao momento da sua morte, todas as emoções que vão crescendo dentro dela, todas as explosões de raiva, todas as vagas de desejo, todos os acessos de choro, todas as rajadas de riso, tudo o que essa pessoa – seja ela um homem das cavernas ou um astronauta, viva ela no deserto de Gobi ou no Círculo Polar Ártico – alguma vez sentirá ao longo da sua vida já foi também sentido por todas as outras pessoas que vieram antes dela.
Palavras de Bing Nathan, personagem de Paul Auster em
Sunset Park (pag. 58 e 59)
Ed. ASA, 2010
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