Quando acabei de ler “O Deus das Moscas” a única interjeição possível foi um prolongado “uffff”. Sofre-se a ler este livro, não só pelo conteúdo mas também porque é extraordinariamente cinematográfico, o que torna a experiência da sua leitura muito vívida.
Um grupo de crianças dum colégio inglês está sozinho numa ilha deserta do Pacífico. Nunca é explicado como lá foram parar, nem isso é importante.
Numa primeira tentativa de organização, é escolhido um (natural) chefe cuja principal preocupação é manter uma fogueira com fumo permanente para que possam ser vistos por algum barco que passe, bem como a construção de abrigos e a definição dos lugares para cada actividade. Bom senso, portanto.
Com o passar dos dias, outro candidato a chefe aparece, com base noutra necessidade – caçar para ter carne, mas também na natural, simples e humana ambição.
O desenrolar de toda a ação que se segue é uma enorme metáfora sobre o ser humano e a luta entre o seu lado luminoso ou sombrio, corajoso ou cobarde, inocente ou malvado, louco ou sensato, inteligente ou tosco, até descer progressivamente ao selvagem irracional, capaz de matar só por matar, numa enorme orgia de primarismo animalesco.
Com base nas grandes questões da sobrevivência, o que William Golding nos traz é uma profunda reflexão sobre a condição humana, a dualidade bem/mal que sempre lhe subjaz, e a fragilidade do verniz civilizacional que estala com demasiada facilidade face à tentação do caos.
Com uma escrita límpida e sem floreados, este é um livro duro de ler e que nos inquieta, porque nos confronta com aquilo que sabemos que somos, mas preferimos esquecer.
Um grande livro.
O Deus das Moscas
William Golding
Ed. D. Quixote, 2008
William Golding nasceu em 1911 no Reino Unido (Cornualha) e morreu em 1993
Recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1983.
Este continua a ser o seu livro mais conhecido.
Sem comentários:
Enviar um comentário