Lembro-me dos anos 1990, quando eu comprava o Público todos os dias e à 6ª feira (julgo) havia a crónica de Miguel Sousa Tavares. O articulado do seu pensamento e escrita valia todo o jornal do dia.
A crónica que publicou no Expresso do dia 19 de Março é, por sua vez, uma pérola de snobeira, cinismo e pensamento simplista.
É dedicada, toda ela, ao sábado, dia 12, em que passou o tempo agarrado à TV a ver as desgraças do Japão e a comparar isso com a piroseira e possidonice do que por cá se passava.
Fala, embevecido, das empregadas de supermercado japonesas que viu a segurarem as prateleiras “ a defender o seu posto de trabalho”; eu também vi e achei que elas estavam a ver se aquilo passava e se a tralha não lhes caía toda em cima, que é o reflexo humano normal num momento como aquele.
Fala também das maravilhosas criancinhas e seus professores que continuaram a sua labuta pela educação, fazendo o contraponto com os malandros dos professores portugueses, por quem desenvolveu um muito ativo ódio de estimação.
Fica a ideia que, para MST, nesse dia todos devíamos ter ficado em casa a chorar, e talvez a rezar, pelo Japão como, certamente, os japoneses fariam por nós se fosse ao contrário. Devíamos pôr os olhos no Japão e segurar as prateleiras em defesa do posto de trabalho!
Depois, dedica-se à manifestação desse dia que tantos engulhos lhe tem causado. E aquilo é um lençol cheio de ressentimento contra quem se manifestou na rua; talvez seja natural em quem envelhece pardo, sem entusiasmo e longe do engajamento que o caracterizava.
Tudo comenta com um toque de intelectual snob, muito acima da “rua” pífia, e um cinismo que é o pior defeito de qualquer comentador.
É demasiado duro o que digo? Pois afirmo que não é nada, comparado com o que sinto quando o vejo derramar tanto fel sobre o seu país e os seus compatriotas.
Dar-lhe-ia um conselho simples se ele me lesse – emigre, Miguel. Os tempos que aí vêm são só para resistentes e você é um desistente. Além disso já cá temos o Medina Carreira, o original e, logo, não precisamos de cópias de segunda ordem. Por mais letras azedas e de bota-abaixo que alinhe na enorme folha que o Expresso põe à sua disposição nunca deixará de ser uma cópia e, como sabe, as cópias não têm valor de mercado.
"toma e embrulha"!
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