sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Monólogo interior de altíssimo gabarito



 
No ano passado, por esta altura, tive uma gripe.

Uma noite, já com ela quase a deixar-me, estava eu, como habitualmente, a ler antes de adormecer, quando ouvi “um passarinho a cantar dentro do peito”, só para dizer uma coisa assim mais para o poético.

Seguiu-se um monólogo interior de altíssimo gabarito:

“ Não faltará muito para teres de escolher entre respirar ou fumar.
Chatice! Mas nessa altura vais escolher respirar, certo?
E se escolhesses já, antes que te mandem? Detestas ser mandada…
Uuummmm, está decidido, amanhã já não fumas.”

E pronto, foi assim.
Depois de quarenta anos, já lá vai um ano.
Faz amanhã.

Bom fim-de-semana.


2 comentários:

  1. Fez melhor que ALB!

    "Pachos na testa, terço na mão,
    Uma botija, chá de limão,
    Zaragatoas, vinho com mel,
    Três aspirinas, creme na pele
    Grito de medo, chamo a mulher.
    Ai Lurdes que vou morrer.
    Mede-me a febre, olha-me a goela,
    Cala os miúdos, fecha a janela,
    Não quero canja, nem a salada,
    Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
    Se tu sonhasses como me sinto,
    Já vejo a morte nunca te minto,
    Já vejo o inferno, chamas, diabos,
    Anjos estranhos, cornos e rabos,
    Vejo demónios nas suas danças
    Tigres sem listras, bodes sem tranças
    Choros de coruja, risos de grilo
    Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
    Não é o pingo de uma torneira,
    Põe-me a Santinha à cabeceira,
    Compõe-me a colcha,
    Fala ao prior,
    Pousa o Jesus no cobertor.
    Chama o Doutor, passa a chamada,
    Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
    Faz-me tisana e pão de ló,
    Não te levantes que fico só,
    Aqui sozinho a apodrecer,
    Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

    António Lobo Antunes - (Sátira aos HOMENS quando estão com gripe)

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    1. Pois fiz, porque sou mulher. Com os homens é como diz o Lobo Antunes , ah, ah!

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